Deleuze, filósofo da Diferença. Em sua obra não deixou de
colocar o problema fundamental do pensamento: a afirmação da vida em detrimento
de todo sistema de julgamento, moral, dever ou norma, enfim, de toda valoração
transcendente. Inspirado em Nietzsche, propõe uma ética como modo de vida
imanente, que percorre as intensidades, os afetos, os encontros. Na esteira de
Espinosa, Deleuze questiona a qualidade das potências que invadem o corpo: são
alegres ou tristes? O que esse corpo pode fazer com esses atravessamentos? Como
gestar um modo de vida afirmativo?
Que relações existem entre ética e estética para o
pensamento deleuziano? A arte dos encontros é isso que pode compor o nosso modo
de agir, o que pode ou não aumentar a potência de existir, de pensar e de
viver. A ética deleuziana é atravessada por forças singulares,
passando pela afirmação da vida, assim, a arte dos encontros é criar uma
estética vital que passe pelos atravessamentos sensíveis, modulando processos
de subjetivações não fixados e duros a serviço dos poderes, dos controles
vigentes para abrir um modo de dizer que se faça entre transportes, vibrações e
bordas movediças, sendo os devires as linhas de criações. Todo o processo dessa
singularidade se constitui por passagens, movimento e repouso, lentidão e velocidades.
São essas linhas e seus graus que atravessam este ou aquele indivíduo; há
infinitas linhas, sejam mais ou menos potentes que compõem e decompõem um
indivíduo, mas as relações são sempre complexas, sempre em variações, o que faz
desse modo de pensar e de viver um enfrentamento com as formas fixas; toda uma
cartografia passa por essa estética dos encontros intensivos.
Em 1975, no livro Kafka: por uma literatura menor,
diante das baixas pretensões do pensamento de exercer uma “função maior
da linguagem, fazer ofertas de serviço como língua de Estado, língua oficial”,
Deleuze e Guattari propõem uma saída, “sonhar o contrário: saber criar um
devir-menor”. Quando constatamos que o seu diagnóstico se mantém não somente
atual como expandido, que para além de uma antifilosofia, uma aversão
generalizada ao pensamento e à criação tornaram-se a linguagem oficial, urge
embrenharmos pelas ruelas do poder procurando sempre a oportunidade de criar
uma linha de fuga, de produzir novos critérios que sejam suficientes para guiar
cada um entre os perigos de um tempo de horror e de terror, tempo em que as
formas de viver estão cada vez mais massificadas, cifradas, endurecidas. Neste
deserto aparente, criar novas maquinarias de resistência que gestem uma borda,
uma toca, uma passagem que atravessem campos transversais do pensamento para
fazer coexistir as multiplicidades, as menoridades.
Realizar este movimento implica entrar em processos de
criação de devires, seguir as linhas de variação e de abolição do pensamento,
constituir um ato de criação. Inquietado e sensibilizado por essas questões, o
IV Variações Deleuzianas, a ser realizado nos dias 23, 24 e 25 de novembro, tem
como objetivo explorar as potências menores do pensamento, percorrendo a
filosofia, a política, a estética e as artes.