II Simpósio da Filosofia da Ciência

O II Simpósio de Filosofia da Ciência visa destacar o centenário de John Michael Ziman (1925-2005) que foi um físico teórico e filósofo da ciência Britânico. Ao longo de seus anos de intensa produtividade acadêmica e de pesquisa na área de estudo de sólidos, ele também dedicou-se à investigação sobre os aspectos sociais da ciência. Debruçou-se sobre diversos temas: ciência pós-acadêmica; produtivismo acadêmico; política científica; participação da sociedade na ciência; consequência dos avanços tecnológicos; ensino de ciências; divulgação científica e responsabilidade social da ciência. Mas, foi pela defesa da ciência como instituição social, coletiva e cooperativa, produtora de conhecimento público, isto é, aberto à critica entre seus pares, que Ziman ficou mais conhecido. Também se preocupou com questões epistemológicas, ligadas à elaboração e justificação de hipóteses científicas, que para Ziman deveriam ser guiadas pelos princípios da “consensibilidade” e “consensualidade”, isto é, pela produção de um conhecimento inteligível e que almeje o consenso dos pares.

Professor nas Universidades de Cambridge e Bristol, foi um dos precursores do Science Studies, ou estudos sociais de ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Tal perspectiva teórica, que surgiu nos anos de 1960, estuda a ciência como produtora de conhecimento levando em conta análises históricas, políticas, econômicas, dentre outras. Assim, para Ziman, para compreendermos a força da ciência devemos olhar para o seu contexto social de produção e não somente para seus aspectos epistemológicos.

Levando em conta, os pré-supostos dos estudos sociais de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), Ziman, em um discurso  para Royal Society, Bernal Lecture “The Collectivisation of Science” (1983), já apontava para as transformações que via ocorrer no modo de produção da ciência de seu tempo, as quais, posteriormente denominou de “ciência pós-acadêmica”. Esta refere-se a incorporação de um ethos (normas de conduta) gerenciais em toda a estrutura de pesquisa na Universidade, inclusive na forma como os cientistas produzem conhecimento e são avaliados. Algumas das consequências da “ciência pós-acadêmica” são: a alteração na noção de conhecimento, que passa a ser visto meramente como instrumental e aplicado; diminuição (ou perda) da autonomia do cientista para propor problemas, gerir sua pesquisa e publicar os dados, sobretudo quando financiados por empresas; produtivismo acadêmico e alteração no papel da Universidade.

Ziman não esteve sozinho ao pensar as transformações científicas de seu tempo. Diversos sociólogos, filósofos da ciência e pesquisadores do CTS também o fizeram. No entanto, a singularidade de Ziman foi a de, se manter por tantos anos um pesquisador ativo, tanto na física, quanto no CTS, investigando o valor do conhecimento em nossa sociedade.