As demandas contemporâneas
inserem profissionais de Serviço Social no front das políticas públicas,
a partir das plataformas de inserção e inclusão, mesmo diante do cenário
ultraneoliberal de corte, retiradas e negativa dos direitos básicos da
população brasileira, o que não apenas nos atravessa, mas perfaz uma realidade
mundial.
Frente ao
referido contexto, no séc. XXI a saúde mental emerge com maior vigor como
problemática a ser evidenciada. Não há mais espaço para o mutismo absoluto e
nem para as práticas higienistas do passado. É preciso falar sobre o que nos
acomete e assola diante das agruras do sistema capitalista excludente que nos
empurra para a barbárie em sua forma mais agudizada.
Sim,
precisamos falar sobre capitalismo, afinal muitas expressões da Questão Social
como a fome, o abandono e as várias faces das violências também geram sofrimentos
psíquicos. Contudo a realidade não para por aí. O mundo do trabalho, fomentado
cada dia mais pelas precarizações de contratos trabalhistas, longas e exaustivas
jornadas, informalidade e até mesmo a plataformização do trabalho de
assistentes sociais, além da contínua formação do exército industrial de
reserva, tem levado a processos graves de adoecimento psíquico que envolvem
depressão, transtornos de ansiedade, crises de pânico, dentre outras formas de
sofrimento que são relegadas ao mutismo absoluto na esfera profissional.
Ressalta-se
que não se objetiva tratar sobre uma abordagem psicologizante, mas sobretudo
compreender que expressões da Questão Social também envolvem profissionais, os
quais também convivem diretamente com a perversidade do capital que no âmbito
do trabalho suga todas as forças em nome de um ‘produtivismo’ esvaziado de
sentidos humanos.
Diante das
problemáticas, não se pode mais falar apenas sobre a saúde mental de usuários e
usuárias das políticas públicas. Urge que se dialogue emergencialmente sobre a
saúde mental de assistentes sociais, assunto envolvido em um silêncio absoluto
não apenas na realidade brasileira, como latino-americana, pois diante da
agudização da barbárie, não podemos apenas sobreviver, precisamos indagar de
que forma poderemos resistir e acima de tudo continuar a luta por uma nova
ordem societária seja possível. Temos muito a construir e a falar, pois como
dizia o poeta Thiago de Mello: “faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai
chegar!”
Profª Drª Lidiany de Lima Cavalcante
Docente
Pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas
Líder do
Banzeiro - Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Saúde Mental e Lutas Sociais
na Amazônia.
Membro
da Coordenação Nacional do GTP
Movimentos Sociais e Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS