Nas últimas décadas temos observado a expansão de novas formas e mecanismos de renovação do capital. O predomínio do capital fictício sobre o capital produtivo tem levado a investimentos em ativos tradicionais como a terra e comodities agrícolas e minerais. Neste cenário, os países em particular, do Sul Global tem sido foco do interesse do grande capital internacional materializado na expansão e consolidação de acumulação capitalista a partir da espoliação dos bens comuns como água, florestas, recursos minerais e terra e pela expropriação dos territórios.
Este modelo gera consequências diretas sobre os sistemas agroalimentares, em particular sobre aqueles de base familiar, afetando diretamente os modos de vida das populações do campo e da cidade, face ao desmonte dos sistemas tradicionais de produção, a constantes processos de desterritorialização camponesa com reais e potenciais danos socioambientais.
Entendendo que a cooperação Sul-Sul não deve se restringir apenas iniciativas governamentais, mas também ao campo acadêmico e aos diferentes movimentos sociais, pois inclui projetos de longo prazo e necessita de articulação entre os atores sociais, o Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU), propõe por meio do I Seminário Internacional Comemorativo dos 10+ anos do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos - NERU sob o tema Construindo territórios: projetos de dominação e resistência dos povos do sul global uma reflexão com pesquisadores, parceiros institucionais, estudantes e movimentos sociais sobre as transformações impostas pelo atual estágio de desenvolvimento do capitalismo neoliberal internacional que domina os processos de acumulação por espoliação e envolve tanto a mercantilização e privatização da terra, a reprimarização e digitalização do espaço, sobre as estruturas histórico-econômicas que sustentam a desigualdade de gênero e a natureza interseccional da subordinação feminina, assim como, os impactos resultantes da internacionalização da educação no Sul Global.
Além disso, não podemos deixar de trazer para a discussão a participação dos movimentos sociais, sindicatos e organizações não governamentais e suas lutas pela democratização do acesso à terra e à alimentação, bem como suas práticas e estratégias de re-existência diante da expansão dos processos de apropriação neocolonial da terra e dos recursos naturais em diferentes escalas e territórios. Estes movimentos, há pelo menos duas décadas engajaram-se ativamente em ações transnacionais coletivas envolvendo os países do Sul Global, trocando experiências, realizando intercâmbios de conhecimento sobre economia solidária, produção agroecológica, agricultura urbana, projetos de cooperação técnica visando a construção de projetos inclusivos, solidários e justo e ambientalmente sustentáveis.
Deste modo, convidamos a todos e todas para participarem deste evento comemorativo e de compartilhamento científico de temas e projetos de interesse coletivo visando a construção de projeto democrático de sociedade.