O tema da saúde como bem comum tem sido abordado por pesquisadores e movimentos sociais sob o duplo enfoque da garantia de acesso, tomando a saúde no âmbito dos direitos humanos e da preservação da integridade das pessoas, e da liberdade, sobretudo na perspectiva da interculturaludade e do reconhecimento das diversidades do andar da vida. Essas perspectivas recolocam a relevância do diálogo intercultural e da universalidade dos sistemas sóciossanitários, considerando a política com o sentido mais forte, da produção do bem comum, que recoloca a integralidade e a produção de equidade num lugar central de formulação do pensamento. A integralidade e a equidade assumem, assim, a condição de marcadores avaliativos e atributos necessários às boas práticas e das políticas. Com o seminário, pretendemos compreender a capacidade que iniciativas atualmente em implementação em diferentes contextos têm de expandir o conhecimento e as formas de expressão das diversidades nas políticas públicas e de amalgamar a superação da crise civilizatória que a pandemia de COVID-19 explicitou nos diferentes territórios. Expectativa que se traduz em perspectivas teórico-conceituais, metodológicas e tecnológicas. A análise comparada de experiências em diferentes contextos, assim como a produção de alteridade com diferentes formas de expressar a saúde das pessoas e coletividades, assim como a produção de democracia, acenam com a superação da lógica necropolítica que nos cerca por todos os lados.
O seminário será desenvolvido a partir de três contextos diversos, que vem sendo abordados em pesquisas, atividades de formação e experimentações territoriais: a experiência da política sóciossanitária italiana na região da Emília Romagna, nos eixos da gestão e da formação em serviço; a experiência dos saberes tradicionais e práticas ancestrais indígenas, a partir da experiência do ambulatório tradicional indígena de Manaus; e experiências do controle social brasileiro, especialmente a educação permanente e da regulação da formação profissional desenvolvidas pelo Conselho Nacional de Saúde.
Tais experiências foram escolhidas intencionalmente para ativar um debate sobre os aspectos interculturais da participação social em políticas públicas. O evento e a produção técnico-científica decorrente integram diversas atividades de pesquisa e instituições.