O atual modelo econômico de base produtiva capitalista atua
na perspectiva de uma gestão e organização da produção flexibilizada,
utilizando-se da microeletrônica e com foco na construção de nichos de mercado,
produtos diversificados e um público consumidor cada vez mais exigente,
diferentemente do modelo taylorista-fordista centrado na racionalização
técnica, movimentos repetitivos, máquinas pesadas e consumo em massa.
Essa nova base econômica requer um trabalhador polivalente,
com maior capacidade de abstração, competência técnica e “ senso crítico” para
saber solucionar problemas que surgem no interior do espaço produtivo, bem como
se adaptar a uma realidade de incertezas, uma vez que a conquista do trabalho
passa a ser ação da pessoa e não responsabilidade da esfera pública. Ao mesmo
tempo, essa maneira de organizar o setor produtivo intensificou a exploração e
a precarização do trabalhador, aliado ainda a perda dos direitos sociais que
acelerou o crescimento da miséria, do desemprego e da exclusão social.
Vale ressaltar ainda,
a crise sanitária decorrente da Covid 19 que forçou o distanciamento social,
possibilitando o crescimento da exploração da classe trabalhadora e oi aumento
da injustiça social. Sendo assim, os sujeitos da educação de jovens e adultos
que em sua maioria vivem nas periferias das cidades, desempregados, realizam
trabalho informal, mulheres que assumem a tripla jornada, adolescentes expulsos
do sistema regular de ensino, pessoas privadas de liberdade, jovens que passam
por medidas sócio-educativas, são os que mais sofrem os efeitos dessa nova
maneira de gerir o trabalho na sociedade capitalista.
Diante desse contexto há de se questionar o verdadeiro papel
da educação nos dias atuais. Que educação é necessária aos trabalhadores e
trabalhadoras? Que formação estes devem receber? E para qual sociedade? O
capital compreende que o papel dos espaços educativos e, especificamente da
escola é desenvolver no educando a sua capacidade de ser empregável, dotá-lo de
conhecimentos que ensine a ser competitivo no mercado, visto que o próprio
trabalhador é hoje responsabilizado pelo seu desemprego.
Não obstante, entendemos que o trabalho é ato criador, por
meio dele o homem modifica a natureza e a si mesmo, pois somente este tem a
capacidade de criar, pré-idealizar o que elabora quer seja no âmbito objetivo,
quer seja na esfera da subjetividade. Portanto, entendemos o trabalho como
princípio educativo em que possibilita ao homem a ação de criar e a recriar a
história humana.
Nesse sentido, os
Fóruns da Educação de Jovens e Adultos como parte da sociedade civil organizada
que prima pelo livre debate, a defesa de uma sociedade democrática e de uma
educação pública, gratuita, de qualidade social e, ao longo da vida, buscando
articular-se com os princípios da educação popular que toma a práxis como o fundamento do agir humano,
compreende que não se pode reduzir o papel da educação dos trabalhadores a uma
simples preparação para o mercado de trabalho, haja vista que educar precisa
ser mais que instruir, é necessário formar, possibilitar a edificação do ser mais do homem, por intermédio da práxis, conforme a concepção freiriana
de educar.
Nessa perspectiva, compreendemos que os princípios da
educação popular como o diálogo, a problematização, a conscientização, a
politização, entre outros, é fundamental para a formação dos trabalhadores,
pois pode possibilitar uma nova maneira de ver a realidade e desse modo
construir um outro mundo possível com justiça social, fundamentado em
princípios éticos, políticos e estéticos que respeite a pluralidade e a
diversidade humana presente na sociedade.
Com base nesse pressuposto, o VI Encontro Regional dos
Fóruns de Educação de Jovens e Adultos dos Estados do Nordeste (VI EREJA),
acontecerá de modo virtual nos dias 02 e 03 de dezembro de 2021, visando
construir lutas e elaborar propostas críticas e criativas capazes de enfrentar
o desmonte da EJA em nível regional. O EREJA representa no momento um espaço
fundamental de reflexão, diálogo e mobilização em torno da garantia de uma
educação pública que rompa com a lógica do mercado, formulando políticas
públicas educacionais que afirmam a diversidade presente no país, contribuindo,
pois, para a afirmação da educação como direito público subjetivo e, portanto,
exigindo respeito a pluralidade presente na EJA.
Por fim, além disso, o VI EREJA ousa afirmar que, apesar dos
últimos retrocessos políticos vivenciados no país é possível conjugar o verbo
esperançar, na certeza de que com luta, resistência, alegria e esperança
seremos capazes de barrar os retrocessos educacionais destinadas à EJA.
OBJETIVO
Propiciar reflexões e debates político-pedagógicos acerca das
relações EJA e trabalho, articuladas com os princípios da educação popular, bem
como construir plataformas de lutas e propostas que contribuam para a garantia
do direito à educação pública, gratuita e de qualidade social voltada a essa
modalidade.