Base Bíblica
Para estes tempos de incerteza para as crianças buscamos a ESPERANÇA além da borda.
Há um episódio pouco conhecido na história de Jacó. Em vista do relato cinematográfico da reconciliação com seu irmão Esaú, precedida por uma noite inteira de luta com Deus, parece um simples detalhe. Após o encontro que tinha tudo para ter sido um confronto, Esaú convida Jacó: “Vamos continuar a viagem. Eu irei com você.” Mas Jacó lhe responde: “Meu senhor sabe que os meninos são fracos (...) Eu irei devagar, nos passos dos meninos”.
Pouco antes, depois de os irmãos abraçarem-se e se beijarem, Esaú pergunta: “Quem são estes que estão com você?”, ao que Jacó responde: “São os meninos com que Deus presenteou seu servo”. Este olhar e este tratamento que Jacó dispensa aos filhos - mesmo que ainda haja vestígios do seu caráter trapaceiro - ilustra um código de conduta amplamente aceito: “crianças têm primazia”.
Muito tempo depois, Jesus colocou a criança em evidência: crianças aproximadas de Cristo, crianças com prioridade na agenda do Messias, crianças no meio da roda, crianças como modelos para os discípulos do Mestre. E é dele essa expectativa: “Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca.las se perca” (Mt 18.14).
Quão distantes estamos disso! A realidade das crianças em todo mundo desmente “as crianças primeiro!”. Mas, mesmo diante do cenário ainda mais desfavorável e cheio de incertezas em função da pandemia da Covid-19, não estamos desesperançados.
Sabemos que há muitas mães, pais, avós, tios, amigos, agentes sociais, professores, gestores, políticos, igrejas, organizações que continuam promovendo e protegendo as crianças. As organizações ligadas à Rede Mãos Dadas e à Renas fazem parte deste grupo. Gosto de pensar que somos - mesmo com nossas imperfeições - como Jacó, protegendo e respeitando o passo das crianças. E indo além: alterando as expectativas sobre o futuro delas.
Algum tempo depois de seu reencontro com Esaú, nasce o segundo filho de Raquel. Um parto difícil
que acaba levando à morte da mãe. Ela é quem dá o nome ao filho, mas Jacó não aceita e o modifica: será Benjamim (“filho da mão direita”) e não mais Benoni (“filho da minha dor”). Jacó - um homem com poucas virtudes - teve seu caráter modificado por Deus. Ele passou a ser um homem da Esperança. Esperança baseada na promessa que Deus tinha feito a ele: “Tu me disseste: ‘Eu certamente farei tudo ir bem com você, e tornarei a sua descendência como a areia do mar, que não se pode contar de tão numerosa’”.
É nesta Esperança que nos firmamos: “Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz na vossa fé, para que transbordeis na esperança pelo poder do Espírito Santo”. Transbordar de Esperança: esperança além da borda, que se derrama. Só o Deus da Esperança pode fazer isto.
[Gn 33.1-15; 35.16-20; 32.13; Rm ‘5.13- citados na ordem em que aparecem no texto. Nova Bíblia Pastoral, Paulus]