A noção de economia destruidora é já antiga, desde o início do século XX foi utilizada pelo geógrafo Jean Brunhes para se referir, baseado na termodinâmica, aos riscos e perigos que as explotações e explorações do meio ou do ambiente provocavam. A expansão capitalista é baseada na transformação da energia e na explotação da Terra em variados modos, se “come a terra” como fala David Kopenawa e se polui o planeta. A energia move este complexo mundo de seres humanos e não humanos. A industrialização brasileira e, em particular a região Sudeste e seu litoral, é bom lembrar, foram baseadas na energia fóssil retirada da Mata Atlântica – carvão vegetal e lenha para os fornos e altos-fornos; madeira para os inúmeros usos das indústrias e nas cidades e no campo e, como corolário a destruição e a extinção de inúmeras espécies animais, de organismos os mais variados e tendo como coroamento, se assim se pode falar, as mutações das paisagens onde vivem diversos povos que foram atropelados por esta máquina de moer gente e territórios.
Este processo continuo de devastação se expandiu pelo país com a literal colonização de outros meios – Cerrado, Amazônia, Caatinga, Pantanal, Pampa... Continuamente as “fronteiras” são expandidas, são reinvestidas e se extrai da Terra o sumo – de corpos humanos e não humanos – que alimenta a máquina da acumulação e da “Paixão pela mercadoria”. As investidas sobre o litoral do Sudeste, em particular no Espírito Santo, para a extração de mata, para as monoculturas e para extração de petróleo e gás e a instalação de terminais portuários se ativam mutuamente e tem efeitos explosivos quando neste concerto de agentes exógenos se imiscuiu o “mar de lama” dos rejeitos da explosiva barragem de Mariana em Minas Gerais de propriedade do grupo multinacional Vale-BH Billington.
Assim, não temos como falar de energia fóssil, sem falar de outras “energias” que se desenvolvem em paralelo com ela, da mesma forma não podemos falar destas explotações sem falar das outras atividades industriais e das monoculturas que invadiram os espaços e que entraram em ressonâncias conflitivas com as diferentes comunidades vivendo nestes territórios litorâneos.
Este Seminário assume a forma de Quatro Painéis. O primeiro tratará da economia destruidora e seus efeitos a ferro e fogo, rejeitando os poluentes dos mais diversos sobre os territórios humanos e não-humanos. O segundo painel trata justamente dos atingidos por estes processos industriais, revelando como os metais pesados e demais poluentes e apropriações dos espaços pelas empresas geram conflitos sem fim e transformações permanentes, mas também lutas, conquistas... uma verdadeira guerra de posições diante de Gaia e do Antropoceno. O terceiro painel se interroga sobre aquilo que se denomina “transição energética”, há realmente uma transição energética ou o capitalismo verde assumiu as rédeas de vez do combate ao aquecimento global, da extinção e das poluições químicas, físicas etc. com uma crescente produção e consumo de energia apostando num “equilíbrio” fictício dos “agentes econômicos” e transformando o mundo num grande mercado da “natureza”? Justamente em relação a essas questões, o quarto painel fornece pistas de compressão e de saída destes mundos onde o Antropos, o ser humano, o Capital, ou o capitalismo, deixam suas marcas e traços eternos, transformando aquilo que os pesquisadores chamam de “Zona crítica”, o tênue e frágil ambiente que vai da litosfera à atmosfera, o qual foi criada em simbiose com todos os seres que aí vivem e que hoje estão sendo destruídos.