A arqueologia é o campo do conhecimento que investiga a
variação e mudança cultural através da cultura material. Trata-se de uma ciência
interdisciplinar que dialoga com a história, geografia, biologia, museologia e
outras áreas. Especificamente à história possibilita um caminho complementar,
conquanto os restos materiais deixados pelos grupos humanos não são
frequentemente manipulados por interesses sociais e econômicos, como
acontece em muitos casos com os documentos resgatados por historiadores
(TRIGGER, 2004). Como fonte de conhecimento a cultura material é capaz de
informar comportamentos distintos daqueles demonstrados nas fontes escritas
e orais (RATHJE, 1982). Adicionalmente testemunham a história dos povos que
não dominaram a escrita, de modo que foram subrepresentados nas
documentações utilizadas na construção historiográfica. Contudo o diálogo entre
esses dois campos do conhecimento carece de ampliação, com arqueólogos
transitando pela história, e historiadores compreendendo ao menos as noções
básicas de arqueologia, de modo a enriquecer as narrativas produzidas em
ambos os cenários. Igualmente os museus se manifestam como um campo de
confluências. Em um período caracterizado por movimentos de descolonização,
experimentação e socialização do patrimônio musealizado, são ainda
importantes ferramentas para divulgação do conhecimento histórico e cultural e
construção de cidadania. Todavia enfrentam dificuldades devido a escassez de
políticas públicas voltadas para a sua manutenção; diversificação das
identidades históricas e sociais em temporalidades cada vez mais curtas, que
eventualmente contribuem para o não pertencimento de alguns grupos sociais
em relação a acervos expostos em museus tradicionais; e finalmente, o desafio
da devolução de acervos e coleções adquiridos por meio da exploração
colonialista. A musealização da arqueologia compreende formas alternativas que
vêm sendo encontradas pelos pesquisadores para preservar, pesquisar e
comunicar os acervos arqueológicos existentes nessas instituições, ou mesmo
advindos de trabalhos de arqueologia preventiva e que não estão diretamente
vinculados a um museu. Iniciativas criativas têm buscado contornar os desafios
aqui apontados, assim como outros que se apresentam nos cenários
específicos. Buscarei aqui expor e discutir essa conjuntura, adentrando as
respostas proporcionadas no que se refere a musealização da arqueologia, e
sempre que possível enfatizando a interdisciplinaridade que reside entre os
campos do conhecimento aqui mencionados.