Temos aqui o desafio de mergulhar na trajetória dos cuidados com os cabelos crespos, tradicionais e contemporâneos, com o propósito de compreender a diversidade de técnicas em diálogo entre os conhecimentos químicos e os saberes ancestrais. A frase “nossos passos vêm de longe” não é apenas retórica, diz respeito aos saberes vindos de longa data que fincam raízes no continente-mãe África e involuntariamente relaciona-se com o Novo-mundo, em geral, e com o Brasil em especial por meio da Diáspora Africana. As sociedades africanas de ontem nos deixaram amplo legado de conhecimento tanto na dimensão imaterial, e da oralidade, e também na dimensão da escrita e de forma material.

Nos interessa, nesta proposta de atividade cultural e formativa, pincelar uma ínfima parte da vasta sabedoria nos cuidados com o corpo e com o embelezamento capilar na perspectiva do autocuidado que inevitavelmente irá expor a complexidade cultural centrada nos saberes africanos e afro-brasileiros, elementos com forte presença da transmissão intergeracional de homens e mulheres negros e negras.

Nosso foco é valorizar saberes antigos com roupagem contemporânea de reconhecimento de si, perceber a beleza em diálogo com a saúde (física e mental). Queremos ainda chamar a atenção para não perdermos de vista que a relação do autoconhecimento de pessoas negras e de pessoas não-negras são construídas de formas assimétricas quando diz respeito ao próprio corpo, em especial quando tratamos da dimensão da beleza e da valorização dos próprios traços físicos. E de forma pedagógica orientar sobre cuidados ancestrais com os cabelos crespos e a ampla diversidade de possibilidade de usos e estéticas que ultrapassam a superficialidade do olhar eurocentrado ainda impostos em contextos profissionais e educacionais, para citar apenas duas dimensões da vida cotidiana.

Justificativa: 

A proposta aqui delineada está sustentada pelas normativas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)  em especial as competências voltadas para as relações socioemocionais devidamente pontuadas como COMPETÊNCIA 8: AUTOCONHECIMENTO E AUTOCUIDADO “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.”  Toda a orientação da atividade formativa versa sobre o processo contínuo de auto reconhecimento e respeito consigo utilizando técnicas de autocuidado que poderão ser replicadas em ambiente familiar entre os pares de convivência.

Objetivo geral: 

Ampliar o léxico sobre o tema de forma que conjugue teoria e prática a partir dos estudos/pesquisas em diferentes áreas – Sociologia à Química_ já realizados em diálogo com a prática profissional de trancistas.

Objetivos específicos:

- Conscientizar e valorizar a história, cultura e estética africana e afro-brasileira perpassando a diáspora africana;

- Apresentar uma pedagogia da Transgressão (HOOKS) com ênfase no autocuidado negro-africano no que tange a diversidade cultural e estética.

- Demonstrar na prática formas de cuidados cotidianos, valorizando a contribuição da História Viva presente nos saberes transmitido através da oralidade e materializados nos resultados da saúde capilar.

Metodologia: 

A atividade formativa está dividida em duas frente que se complementam, descritas abaixo:

1. Teorico-prática: É voltada para a formação como ferramenta para aplicação da Lei nº 10639/03 de Inclusão da História, Cultura Afro-brasileira através da importância em “mexer” com o ORI (cabeça), por considerar o Cabelo Crespo como um elo de ancestralidade das culturas Africanas e Afro-brasileiras. Informando sobre origens, técnicas e modelos de cuidados, penteados entre diversas culturas africanas e da diáspora de forma pedagógica. Tendo como referencial bibliográfico a produção acadêmica sobre a temática. (12 horas)

2. Prática: Capacitar e enriquecer o conhecimento por meio da experiência de “mexer na cabeça” de fora para dentro, a partir do entendimento do quanto a dimensão estética capilar nos afeta diariamente e que não se trata de “apenas cabelo”. Em nossa atividade formativa, o ato de soltar os fios crespos faz parte de um rito cotidiano de beleza. E, nos propomos tornar tal momento algo valorizado que traga bem-estar ao mesmo tempos de forma conscientizadora revisitar técnicas ancestrais enaltecendo seus usos contemporâneos de embelezamento. (8 horas)

Metas: 

Ouvir as diferentes experiências apontadas como mais relevantes pelo grupo e sistematizas formas de orientação sobre ritos de beleza que respeitem o desejo da pessoa e ainda assim tenha concordância com técnicas saudáveis. A exemplo do uso de aquecimento dos fios crespos como o uso do utensílio de beleza o “pente quente” (criado em 1914) nomeado e remodelado como “chapinha”, amplamente utilizada para alinhar os fios crespos com o uso de calor. De outra feita, estaremos também remexendo a cabeça “de dentro para fora” ao provocar um "outro" olhar sobre a estética afro-brasileira, tão depreciada nos diversos âmbitos (a exemplo do espaço escolar), entrecruzando a perspectiva comportamental dos espaços públicos (profissionais) com as trajetórias individuais de cada uma das participantes de forma dialógica.

Algumas perguntas iniciais: 

Quais são as memórias acionadas ao soltarmos nossos fios crespos? De riso ou de dor? Quais as minhas referências de beleza crespa? Quais os cuidados que respeitam minha estética capilar?

Perfil do público almejado: 

Livre, prioritariamente voltado para pessoas negras com cabelos crespos. Obs: Embora a atividade possa englobar diversos perfis sociais. 60 vagas.

Estratégias:

Em nossos encontros virtuais teremos a oportunidades aprofundar o olhar sobre os cuidados com a melanina, pele e cabelos sustentado no diálogo com os saberes do mundo vegetal e mineral. Nesse mote, quais plantas atuam nos cuidados com a pele e cabelos? Como seu uso superou o tempo e a distância e se mostra ainda pujante nos lares de afrodescendentes mundo à fora. Um exemplo: a Aloe Vera (Babosa) com registros em papyros egípcios e amplamente encontradas nos jardins urbanos e rurais, ecos da sabedoria popular

Avaliação de impacto: Avaliação do grupo via formulário online.

Elaboração de cartilha informativa com objetivo de sanar dúvidas e orientar sobre cuidados e estudos sobre a temática.