Corpos interditados: HIV, COVID-19, gueis e o corpo perigoso.
Uma doença não é um fenômeno puramente biomédico, trata-se de uma metáfora social que se inscreve na história. O surgimento da pandemia da AIDS na década de 1980 aglutinou e ampliou todo estigma e opressão destinado a corpos dissidentes do cis-tema heteronormativo-higienista, em particular pessoas sexualizadas como é o caso de gueis e trans. Esses corpos passaram a ser lidos como ainda mais sujos e perigosos: vetores de uma praga, corpos contaminados e criminosos de contagio venéreo. Muito mudou desde então, os movimentos sociais e os avanços no tratamento antirretroviral impactaram tanto a percepção social quanto as políticas públicas voltadas a inclusão de pessoas LGBTIQA+ ou que vivem com HIV, todavia os estigmas relacionados ao HIV se mantem e conformam uma espécie de “segundo armário”. Nesse sentido, o surgimento da pandemia de COVID-19, a necessidade de isolamento social e a (re)agenciamento da corpofobia intensificaram a vulnerabilidade de pessoas LGBTIQA+ e/ou que vivem com HIV, visto que estas podem se encontram em ambientes LGBTfóbicos e/ou sorofóbicos que passaram a ser totais. Assim, essa fala pretende entender a pandemia de COVID-19 como uma metáfora social que tensiona e amplifica o estigma contra pessoas LGBTIQA+ e que vivem com HIV.
Hudson Carvalho é uma bicha branca que trabalha como professor universitário e artista independente. Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ministra disciplinas relacionadas à psicologia clínica, coordena um serviço de assistência psicológica para pessoas que vivem com HIV e é membro do D'GENERUS: Núcleo de Estudos Feministas e de Gênero. Neste contexto acadêmico, tem desenvolvido projetos de ensino, pesquisa e extensão com foco na articulação dos temas: saúde, sexualidade e positHIVidades, identidades sexuais. Como artista, tem desenvolvido material textual, performático e audiovisual que problematiza lógicas tradicionais de família, sucesso e amor romântico.