Em reverberação ao Bicentenário da Independência Nacional, o Laboratório de Estudos do Horror e da Violência na Cultura (LEHViC/ UFMS), em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, propõe um espaço de debates relacionados a disputas em torno de narrativas e projetos de nação, com o intuito de contribuir com o impulsionamento de propostas comprometidas com a expansão de conceitos como "modernidade", "arte" e "identidade nacional". Sem deixar de reconhecer as contribuições árcades, românticas e modernistas para as renovações estéticas e temáticas da arte e do imaginário nacional, desenvolvemos aqui uma reflexão sobre algumas de suas lacunas. Se, a partir do arcadismo passamos a observar o engajamento de vozes intelectuais para formar uma literatura autenticamente brasileira e, a partir do modernismo, as culturas dos sujeitos negro, indígena e rural deixam de ser compreendidas, de acordo com Antonio Candido, como um defeito a ser superado e passam a ser objetos temáticos imprescindíveis para a atualização e internacionalização do projeto artístico nacional, defendemos aqui a necessidade de compreendermos esses sujeitos não mais como identidades a ser representadas, mas como intelectualidades que contribuem ativamente para a proposição de novos modelos de nação. Nesta perspectiva, convém considerarmos discursos e expressões artísticas – negras, rurais, urbanas, indígenas e não indígenas - advindos de regiões historicamente invisibilizadas, engajados com a defesa de novos códigos estéticos e saberes para a construção de um modelo de brasilidade livre da violência colonial outrora institucionalizada neste território nacional.
Por compreendermos a importância da arte e da literatura para a formação do imaginário de uma sociedade, propomos um revisionismo crítico e uma ampliação do que hoje é compreendido como cânone literário brasileiro. É preciso que propostas de autores advindos de regiões historicamente invisibilizadas em meio a debates acadêmicos e/ou midiáticos, realizados em um âmbito nacional, passem a circular e ser avaliadas de forma democrática em todo o país, assim como escritores de grandes centros urbanos circulam em currículos escolares e universitários das regiões interioranas do Brasil. É preciso que estados como Mato Grosso do Sul, Acre, Tocantins, Roraima e Amapá passem a ser compreendidos como espaços que acolhem sujeitos produtores de conhecimento. Revindicamos, assim, a participação ativa e contínua destas vozes naquilo que é compreendido hoje como um mapa literário brasileiro, pois estar fora deste projeto, segundo Leandro Pasini, corresponderia a estar fora do tempo literário, da história literária viva, aprisionado em um tempo morto da repetição ou da permanência, que pouco ou nada significa a uma estrutura histórica em processo de consolidação. Ao pensarmos na circulação e na avaliação das produções literárias advindas destas regiões periféricas, propomos a efetivação do projeto modernista de horizontalizar e“postular uma reciprocidade de perspectivas em que cada um deles reflete sobre si mesmo e projeta uma imagem em um mapa literário descentralizado, configurado em prismas específicos e originais, que iluminam um circuito uno e desigual a partir de ângulos diferentes".
Partindo dessas reflexões, propomos um ciclo de palestras online voltadas ao estudo de produções intelectuais indígenas, quilombolas, nortistas, africanas e femininas no decorrer de setembro de 2024. Esses encontros - acolhidos pela Biblioteca Isaías Paim e ministrados por professores e acadêmicos de todo o Brasil - são gratuitos, online e abertos à comunidade geral.
**** Para ter direito a certificado, basta realizar sua inscrição no evento ****
Lembre-se, nossos encontros acontecerão sempre às segundas-feiras de setembro, a partir das 19h (horário de Mato Grosso do Sul).
Confira a programação:
2 de setembro, das 19h às 21h, palestra “Independências do Brasil: Artes, História e Literatura nas disputas em torno de projetos de nação”, proferida pelo Prof. Dr. Wellington Furtado Ramos (UFMS);
9 de setembro, das 19h às 21h, palestra “Identidade e resistência em Luandino Vieira”, proferida pela Prof.ª Dr.ª Carina Marques Duarte (UFMS);
16 de setembro, das 19h às 21h, palestra “A Origem do Fogo e da arte culinária na cultura Kaiowá”, proferida pela Prof.ª Drª Gabriela Barbosa Lima e Santos (UFMS);
23 de setembro, das 19h às 21h, palestra “Mundaú te lambeu: o Quilombo dos Palmares na história e na literatura”, proferida pelo Prof. Mestre José Minervino Neto (UFAL);
30 de setembro, das 19h às 21h, palestra “Mulheres no Brasil colônia e contemporâneo: estudo de imagens poéticas sobre sexualidade e trabalho”, proferida pela Prof.ª Drª Ângela Teodoro Grillo (UFPA).
Esta proposta, desenvolvida pelo Laboratório de Estudos do Horror e da Violência na Cultura (LEHViC), em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, é um dos resultados parciais do projeto intitulado Ainda o Regionalismo, nosso contemporâneo?, que conta com apoio financeiro da Fundect/MS, por meio do Termo de Outorga n. 296/2022.