DE “DESFAVORECIDOS DA FORTUNA” A “CIDADÃOS EM FORMAÇÃO”: PASSADO E PRESENTE DE ESTUDANTES DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM MINAS GERAIS

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
DE “DESFAVORECIDOS DA FORTUNA” A “CIDADÃOS EM FORMAÇÃO”: PASSADO E PRESENTE DE ESTUDANTES DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM MINAS GERAIS
Autores
  • Hellen Vivian Moreira Dos Anjos
  • Antônio Dimas Cardoso
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 16 - Educação, Memória, História
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437445-de-desfavorecidos-da-fortuna-a-cidadaos-em-formacao--passado-e-presente-de-estudantes-da-rede-federal-de-educ
ISSN
Palavras-Chave
Escola de Aprendizes Artífices, Minas Gerais, Perfil do aluno
Resumo
Introdução Este trabalho tem por objetivo identificar similaridades entre os estudantes da Escola de Aprendizes Artífices – EAA –, das décadas de 1930 e 1940 (atual CEFET – Minas), e os seus sucedâneos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no estado de Minas Gerais e analisar o perfil dos estudantes que acessavam a EAA – primeira configuração da Rede Federal em Minas Gerais. Esta comunicação tem uma abordagem qualitativa e quantitativa e os instrumentos escolhidos foram a análise documental e a aplicação de questionários estruturados. Foi realizada uma visita ao CEFET – Minas, na cidade de Belo Horizonte, em busca de documentos de época que nos dissessem mais acerca do perfil dos estudantes dessa instituição centenária inaugurada em 1910. Procedemos à análise de 388 pedidos de matrícula de alunos e, a partir das informações registradas nestes documentos, pudemos levantar informações documentais que caracterizam esse público e nos mostrar quem eram, de fato, os “desfavorecidos da fortuna” – público alvo de instituições desta natureza, conforme previa o Decreto de criação da Rede Federal promulgado por Nilo Peçanha em 1909. Quanto à análise quantitativa, optamos pela aplicação de um questionário estruturado composto de vinte e seis questões que nos levaram a conhecer quem são os estudantes que acessam, atualmente, ao Ensino Médio Integrado de um campus agrícola no IFNMG. Os questionários foram respondidos por 363 estudantes de três cursos integrados e três séries distintas. 1. Fundamentação teórica Para constituir os marcos teóricos deste trabalho entendemos que é preciso articular diferentes olhares e perspectivas sobre a Educação Profissional, especialmente a discussão sobre o que são os Institutos Federais para a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Dessa maneira, julgamos ser importante situar os Institutos Federais enquanto política pública educacional relevante no campo da Educação Profissional, explicitando acerca da criação das primeiras Escolas de Aprendizes e Artífices em 1909 até o contexto de emergência dos Institutos Federais nos anos 2000. Para essa discussão apoiamo-nos em documentos históricos que fazem parte do Arquivo do CEFET – Minas, nas leis de criação das Escolas de Aprendizes Artífices no Brasil em 1909 e dos Institutos Federais em 2008 e utilizamos como aportes teóricos autores como Dubet (2003), Chamon, Goodwin Jr (2012), Dulci (1999), dentre outros. 2. Resultados alcançados 2.1 Perfil dos alunos da Escola de Aprendizes Artífices em Minas Gerais A partir da análise documental, procuramos identificar quem eram os “desfavorecidos da fortuna”, como considerava o decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, do presidente Nilo Peçanha. Os pedidos de matrículas que analisamos referem-se aos anos de 1930 a 1942. As idades dos alunos da EAA que fazem parte da amostra, no ato do pedido de matrícula, variam de 09 (um único aluno) a 41 anos (um único aluno). A maioria dos estudantes apresenta idade entre 10 e 16 anos (363 alunos), com maior concentração entre 11 e 13 anos (217 alunos). Algumas dessas crianças e adolescentes eram marginalizadas socialmente e oriundas de um abrigo para menores, portanto, o público alvo da EAA. Contudo, esse perfil não era uma regra para acessar a instituição. Havia exceções e, talvez, seja essa a grande contribuição desse trabalho para os estudos em Educação Profissional no estado de Minas Gerais. Uma escola anunciada para os “desvalidos da fortuna” que aceitava também estudantes de outros estratos sociais. É a marca da federação que “salta aos olhos”, especialmente num Brasil do início do século XX carente de formação para o trabalho. A persistência dessa característica de um público dual quanto às condições socioeconômicas, também será destacada ao analisarmos os estudantes do IFNMG. Ao se observar o campo “filiação” e “assinatura” nos pedidos de matrícula, pode-se perceber que a maioria, 292 alunos, possuía pai e mãe e que a matrícula foi efetivada por um dos dois. Vinte e duas matrículas constam apenas o nome do pai e 14 matrículas somente o nome da mãe. Não foi possível compreender se essas crianças eram, necessariamente, órfãs de pai ou mãe, pois nem todas as fichas trazem essa informação. Trinta e sete pedidos de matrícula foram feitos por protetores ou responsáveis, o que pode indicar que crianças e adolescentes, especialmente residentes na zona rural ou em outras cidades, estavam sob os cuidados de outrem na capital do estado para estudarem. Trinta e duas pessoas, dentre pais ou responsáveis, não assinaram o pedido de matrícula, ou seja, eram analfabetas. Essa situação é um indicativo importante do perfil de grande parte daqueles que buscavam a EAA em Minas Gerais. Quanto à profissão dos pais desses estudantes foram identificadas uma grande variedade de ocupações; 60 profissões ao todo, tais como trabalhador doméstico, operário, pedreiro, funcionário público, chofer, militar, guarda civil, carpinteiro, lavrador, comerciante, lavadeira, dentre outros. Importante salientar que muitos não eram tão desvalidos assim, pois tinham pais sargentos, fazendeiros, funcionários dos Correios, dentistas, oficiais de justiça, funcionários da imprensa oficial, topógrafos, professores, engenheiros, agrônomos e servidores públicos federais. Contudo, pela natureza das profissões da maioria dos pais, o se pode perceber é que, a Escola de Aprendizes Artífices, apesar das exceções, (que não eram tão poucas), tinha como público principal estudantes oriundos de estratos sociais menos privilegiados. 2.2 Perfil dos estudantes do Ensino Médio Integrado de um Campus Agrícola no IFNMG Os questionários aplicados em um campus agrícola do IFNMG foram respondidos por 363 estudantes do Ensino Médio Integrado. Os sujeitos pesquisados têm idades que variam de 14 a 19 anos e, em sua grande maioria, não apresentam defasagem idade/série. Os resultados mostram que, quanto à cor/raça dos estudantes, a maioria é parda. Quanto ao estado civil, 99% são solteiros, não possuem filhos e apenas estudam. Em relação ao sexo, pode-se perceber que as mulheres ocupam quase a metade das vagas dos cursos integrados. No levantamento que fizemos nos pedidos de matrícula na EAA, em Belo Horizonte, pode-se notar que todos os estudantes eram homens. As meninas não tinham acesso aos cursos da Rede Federal no início do século passado. O que se vê é um cenário de desigualdades fundamentadas no gênero e que revelam resquícios de um passado de submissão que ainda apresenta fortes marcas na vida das mulheres contemporâneas. Os estudantes do campus em questão são, em sua grande maioria, oriundos de famílias de baixa renda, apresentando renda total familiar de até dois salários mínimos. Dos 363 estudantes participantes da pesquisa, 228 enquadram-se nesta categoria familiar. Isso demonstra que o público que frequenta a instituição de ensino analisada é oriundo de estratos sociais menos privilegiados, o que corrobora a pesquisa feita no CEFET-Minas sobre o perfil socioeconômico dos primeiros alunos da EAA. Considerando os três cursos integrados oferecidos pela instituição, Agroindústria, Agropecuária e Informática, e o local de residência dos estudantes, campo ou cidade, nota-se que uma pequena quantidade de estudantes, apenas 14,32%, têm família residente no campo. Mais uma vez encontramos consonância com os dados levantados na EAA no início do século passado, que sugerem que muitos estudantes dessa instituição, tinham residência urbana e no centro da cidade de Belo Horizonte, o que não era comum às populações marginalizadas da época. Em relação à escolaridade dos pais dos estudantes, fica evidente que as mulheres têm mais anos de escolaridade do que os homens. Enquanto a maioria dos pais (pai) dos estudantes têm apenas o Ensino Fundamental incompleto, as mães possuem o Ensino Médio completo. Não foi possível conhecer o nível de escolaridade dos pais e mães dos alunos da EAA. As informações dos pedidos de matrícula não tratavam sobre esta questão. Contudo, como analisamos anteriormente, 32 pessoas, dentre pais ou responsáveis de estudantes desta escola, não assinaram o pedido de matrícula, ou seja, eram analfabetas, o que pode ser um indicativo importante do perfil de grande parte daqueles que buscavam a EAA em Minas Gerais. Conclusões À nível de depreensão, o que se pode notar com bastante clareza, é que existem muito mais similaridades e continuidades entre os primeiros alunos da EAA em Minas Gerais e os estudantes do IFNMG – passado e presente – do que se poderia imaginar. Daí a importância do exercício sociológico de, conforme nos orienta Dubet (2000), tentarmos descrever as desigualdades, suas escalas e registros, seu crescimento e sua redução, considerando-as como um conjunto de processos sociais, de mecanismos e experiências coletivas e individuais. No nosso caso, o nosso esforço foi mostrar as diversas naturezas das desigualdades no âmbito de duas instituições de ensino, pertencentes a uma mesma rede e separadas por um século de diferença. Referências bibliográficas DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Trad. Sérgio Miola – Ijuí: Ed. Unijuí, 2003 – 76 p. CEFET MINAS. Fundo Escola de Aprendizes Artífices de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. DULCI, Otávio Soares. Política e Recuperação Econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ANJOS, Hellen Vivian Moreira Dos; CARDOSO, Antônio Dimas. DE “DESFAVORECIDOS DA FORTUNA” A “CIDADÃOS EM FORMAÇÃO”: PASSADO E PRESENTE DE ESTUDANTES DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM MINAS GERAIS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437445-DE-DESFAVORECIDOS-DA-FORTUNA-A-CIDADAOS-EM-FORMACAO--PASSADO-E-PRESENTE-DE-ESTUDANTES-DA-REDE-FEDERAL-DE-EDUC. Acesso em: 20/07/2025

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