MERCADO DE TRABALHO E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Publicado em 23/12/2021 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
MERCADO DE TRABALHO E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Autores
  • Aida Guerreiro de Oliveira
  • Elizabeth Rodrigues De Oliveira Pereira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 20 - Acessibilidade em tempos de Diversidade, Inclusão Social e Escolar
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/423750-mercado-de-trabalho-e-a-pessoa-com-deficiencia--desafios-e-possibilidades
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Pessoa com Deficiência, Inclusão, Trabalho, Sociedade
Resumo
No contexto atual temos acompanhado uma grande evolução em relação aos direitos das Pessoas com Deficiência. O poder legislativo tem elaborado uma diversidade de leis que priorizam o atendimento das necessidades deste público, viabilizando uma qualidade de vida mais acentuada e promovendo mais participação na vida social, no processo educacional e inclusive na atuação profissional. Entretanto, torna-se necessário uma intensa fiscalização no cumprimento dessas leis, que, por vezes, são violadas, causando danos para a Pessoa com Deficiência e sua participação efetiva na sociedade. Neste artigo abordaremos a problemática do indivíduo com deficiência para atingir o mercado de trabalho. Não cabe somente ao profissional com deficiência a busca de meios para adaptação ao mundo do trabalho, a sociedade tem papel crucial de promover ações que permitam a funcionalidade da pessoa com deficiência. Apesar do esforço contínuo de diversos segmentos para que haja principalmente transformações atitudinais, não se percebe avanços neste sentido. É indispensável manter o foco na relação do indivíduo com o seu trabalho, analisando se as empresas estão priorizando a igualdade de oportunidades entre seus funcionários, inclusive se estão oferecendo acessibilidade no ambiente de trabalho permitindo a produtividade do profissional com deficiência. O homem na sociedade em que vivemos, predominantemente capitalista,somente se identifica como ser humano, à medida em que ele se reconhece por meio daquilo que produz. O trabalho como determinante na formação da identidade tanto individual como social.A questão dos Direitos do Homem deve ser a parte inicial a ser abordada,pois é a partir dela que será possível compreender os enfrentamentos que as pessoas com deficiência vivenciam para alcançar o mundo do trabalho.Embora já tenhamos direitos adquiridos na Constituição Federal, várias leis são elaboradas para reafirmar o que já foi declarado como direito,o que não garante o cumprimento das mesmas. Como declara Norberto Bobbio: Do ponto de vista teórico, sempre defendi – e continuo a defender, fortalecido por novos argumentos – que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. (BOBBIO, 1990). E, mais adiante, afirma: Já a maior parte dos direitos sociais, os chamados direitos de segunda geração, que são exibidos brilhantemente em todas as declarações nacionais e internacionais, permaneceu no papel. O que dizer dos direitos de terceira e de quarta geração? A única coisa que até agora se pode dizer é que são expressão de aspirações ideais, às quais o nome de"direitos" serve unicamente para atribuir um título de nobreza. (BOBBIO, 1990). Ao refletirmos sobre os desafios que a Pessoa com deficiência encontra para assumir seu papel como cidadão comum, que possui direitos à educação, profissionalização, saúde, trabalho, lazer, etc.,esbarraremos nos aspectos multiculturais de uma sociedade muito conservadora, enraizada em suas tradições. Se nossa sociedade fosse mais aberta às transformações, talvez não houvesse necessidade de se criar uma lei para que as pessoas com deficiência tivessem seu direito ao trabalho reconhecido. A Lei de Cotas, lei 8213, de 1991, exige do empregador a obrigação de contratar certa percentagem de pessoas com deficiência conforme o número de empregados que possui. Esta obrigação acaba trazendo um desconforto tanto para o empregador como para o profissional com deficiência. Os resultados seriam outros se ocorressem de forma mais natural. Vemos Sassaki afirmar: As empresas se tornam verdadeiramente inclusivas na medida em que suas motivações não se restrinjam ao cumprimento da Lei de Cotas, e sim, que se fundamentem na crença de que a contratação de pessoas com deficiência e o consequente atendimento às suas necessidades especiais beneficiam a todos, inclusive as próprias empresas, e refletem conceitos altamente valorizados no século XXI. (SASSAKI, 2006). No intuito de ilustrar o tema, foi selecionada uma profissional para um estudo de caso não tendo seu nome real divulgado, sendo chamada de "Sol", um nome fictício. Sol, uma jovem que possuía baixa visão há dez anos atrás, atualmente se tornou pessoa com cegueira. Sendo sua perda de visão progressiva,buscou aprender o sistema Braille quando ainda possuía baixa visão.Concluiu o Ensino Médio e, tendo adquirido excelente fluência na leitura Braille, decidiu realizar um curso de revisora Braille. Foi contratada e, como ela mesma relatou, não teve muitos desafios neste emprego, pois estava em um ambiente muito familiar, apropriado com suas limitações e que lhe proporcionava avanços e possibilidades em sua função tão específica. Alguns anos após, visando maior estabilidade profissional, Sol prestou concurso público para Assistente Administrativa de uma universidade pública. Inscreveu-se pela Lei de Cotas e solicitou ledor para a realização das provas. Foi aprovada e escolhida para exercer sua função na biblioteca da Universidade. Ao ser entrevistada, Sol relata ter vivenciado alguns desafios ao iniciar em sua função na biblioteca. O ambiente não estava preparado para atender as necessidades de uma pessoa com deficiência visual. Os funcionários não tinham contato com pessoas com esta característica e portanto, tratavam-na de forma assistencialista. Sol precisou de algum tempo para mostrar-lhes que ela possuía autonomia para locomover-se e se o ambiente tivesse acessibilidade apropriada, ela conseguiria realizar sua função com propriedade e independência. Segundo Gabrili, antes que uma empresa estabeleça premissas e valores nas atitudes em um programa de inclusão, quatro palavras devem ser banidas em todas as ações da empresa, logo no início do programa de inclusão: assistencialismo, protecionismo, benemerência e segregação. Isso significa que, pelo fato de não saber lidar com pessoas com deficiência, muitos gestores ou colaboradores podem assumir posturas de superproteção, dificultando a chance de os deficientes mostrarem suas habilidades além de comprometer seu desempenho e crescimento profissional.(GABRILI, 2011). A partir da chegada de Sol, toda a equipe obteve uma orientação da mesma para que fosse realizada uma preparação no ambiente de maneira que proporcionasse ``a pessoa com cegueira acessibilidade comunicacional promovendo a possibilidade de que Sol pudesse exercer sua função como qualquer outro profissional. Desde então, foram colocados leitores de tela nos computadores, não somente no que era utilizado por ela, mas inclusive nos computadores de pesquisa dos alunos. A única acessibilidade que eles possuíam era um scanner Sara. Utilizavam um aplicativo chamado Sofia que não é acessível, mas com ajuda de um leitor de códigos de barras, Sol conseguia registrar os códigos atendendo usuários nos empréstimos e devoluções de livros. “O que se percebe na prática, é a falta de divulgação e informação sobre o processo de inclusão também no mercado de trabalho, e não somente na educação” (GIMENES, 2014) As funções de Sol eram atender alunos nas devoluções de livros, orientar os alunos com deficiência visual a utilizarem o scanner adaptado, confirmar em uma lista de alunos em débito se já realizaram a devolução e, caso contrário, contatá-los para realizar a cobrança. Além disso, orienta os alunos com deficiência visual a localizarem livros na estante, se locomoverem no ambiente, levá-los ao banheiro, até a saída,etc., pois ela já possui bastante autonomia e os alunos ainda não. Sol citou também que há uma preocupação, quando realizam mudanças nos móveis do ambiente da biblioteca, em testarem imediatamente com ela para identificarem se facilita ou prejudica sua locomoção no novo ambiente. Elogiou sua chefia, alguns colegas que são muito colaboradores, mas relatou que alguns funcionários demonstraram não compreender que algumas funções ela não consegue realizar e ficam fazendo cobranças incabíveis. Sol sorri e afirma: "São os ossos do ofício". A inclusão social é a palavra-chave a nortear todo o sistema de proteção institucional da pessoa com deficiência no Brasil. Implica a ideia de que há um débito social secular a ser resgatado em face das pessoas com deficiência; a remoção de barreiras arquitetônicas e atitudinais acarreta a percepção de que os obstáculos culturais e físicos são opostos pelo conjunto da sociedade e excluem essa minoria do acesso a direitos fundamentais básicos. (MELO, 2007) Em uma análise crítica pode-se constatar que qualquer indivíduo em busca de se inserir no mercado de trabalho enfrentará desafios diversos mediante o ambiente novo, devido às vezes a sua falta de experiência naquela determinada função. Por outro lado, abrir-se-á um leque de possibilidades de aperfeiçoamento na profissão, ascensão profissional, crescimento funcional e reconhecimento por parte de seus gestores. Todavia, ao pensarmos nesses desafios e até mesmo nas possibilidades para a pessoa com deficiência inclusa no mercado de trabalho poderemos afirmar que além dos elementos já citados, essas pessoas terão desafios e possibilidades outras pertencentes a sua característica física,sensorial, mental ou psíquica. As pessoas que não vivenciam certas experiências porque não possuem alguma deficiência têm dificuldade em considerar os enfrentamentos que as pessoas com deficiência esbarram a cada passo. Em se tratando da questão da empregabilidade no país em que vivemos, os desafios vivenciados por elas são incalculáveis, prejudicando seu avanço profissional, sua participação na vida social e impedindo o exercício de sua cidadania.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Aida Guerreiro de; PEREIRA, Elizabeth Rodrigues De Oliveira. MERCADO DE TRABALHO E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/423750-MERCADO-DE-TRABALHO-E-A-PESSOA-COM-DEFICIENCIA--DESAFIOS-E-POSSIBILIDADES. Acesso em: 09/09/2024

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