CONFLITOS NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
CONFLITOS NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS
Autores
  • MARCELO BARBOSA SANTOS
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 20] Sistema judiciário, desigualdades étnicas e raciais
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/104702-conflitos-nas-universidades-no-contexto-das-acoes-afirmativas
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Conflito; ação afirmativa; universidade; educação.
Resumo
Resumo: Estudo sobre os conflitos nas universidades públicas envolvendo estudantes cotistas no contexto das políticas de ações afirmativas. A análise é fruto da reflexão teórica sobre os registros na esfera pública, entre 2006 e 2018. Introdução Em 2018, a iniciativa pioneira de adoção das ações afirmativas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (2002) completa 15 anos. É fato que houve significativo aumento de ingressantes negros após a adoção das ações afirmativas, no entanto, no que diz respeito à permanência desses estudantes, ainda faz-se necessário outros estudos. São poucos os relatórios públicos elaborados pelas universidades que revelam a situação da permanência dos cotistas. Este artigo tem como objetivo desenvolver análise sobre os relatos de conflitos registrados na esfera pública envolvendo os estudantes cotistas e o resto da comunidade universitária, após a adoção das ações afirmativas nas instituições de ensino superior públicas entre 2006 e 2018. Metodologia O artigo é fruto de estudos sobre a implementação das ações afirmativas no Brasil que, em parte, será aproveitado para Tese de Doutorado em Política Social na UFF. Para o texto foram analisados conflitos nas universidades envolvendo estudantes cotistas no contexto das ações afirmativas. Essa tarefa pressupõe revisão bibliográfica no campo das ciências sociais, incluindo nesse rol os estudos em educação, serviço social e história. Como referência teórica foi utilizada desde a formulação de habitus de Bourdieu, habitus precário de Jesse Souza, chegando à sugestão da noção de habitus precário educacional. Para tanto, estão sinalizadas como fontes, tanto os registros de conflitos em publicações acadêmicas: teses, dissertações, livros e artigos, como aqueles feitos na esfera pública (HABERMAS, 2003): jornais, revistas, páginas eletrônicas e redes sociais - documentos de domínio público ‘não-arquivado’ (CELLARD, 2010). Conflito social De acordo com o Bobbio, Matteucci e Pasquino (1992), conflito seria uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choques para o acesso e a distribuição de recursos escassos. Estes recursos, prevalentemente são identificados no poder, na riqueza e no prestígio. Dentre as várias contribuições teóricas sobre conflito, a que destacamos como base deste estudo é a desenvolvida a partir das reflexões de Bourdieu. Para o sociólogo francês, os conflitos configuram uma dimensão permanente das práticas sociais. Esses conflitos compõem o efeito da estruturação do “espaço social” por meio das relações entre diferentes classes sociais e frações de classe (BOURDIEU, 1996). Ainda sobre o arcabouço teórico sobre conflito, nos apropriarmos também das noções bourdianas de habitus, campo e de capital (econômico, social e cultural); habitus precário de Jesse Souza; chegando à sugestão da noção de habitus precário educacional. Análise sobre os conflitos É fato que com a adoção das ações afirmativas, a diversidade entre os discentes tem sido mais contemplada. Os estudantes cotistas trazem junto de si novos estilos de vida, culturas, vivências, trajetórias, gostos, gírias, olhares, visões de mundo. São maneiras diferentes de pensar, vestir, andar, rir, chegar, sair, reivindicar, organizar, reclamar, etc. Levam isso tudo para um campo social que não foi preparado e pensado para eles, portanto, elevando as possibilidades de conflito. Os casos de conflitos analisados para a confecção do artigo ocorreram entre os anos de 2006 e 2018 em universidades brasileiras possuidoras de algum tipo de ação afirmativa. Para dar conta do processo de análise, sistematizamos os casos de conflito em três segmentos: a) entre os estudantes (cotistas e universalistas), b) dos estudantes cotistas com os docentes e c) dos estudantes cotistas com a administração universitária. Apontamentos gerais e considerações finais Em todos os conflitos investigados na pesquisa a visibilidade veio em função de alguma denúncia dos estudantes, algumas formalizadas somente nas suas respectivas universidades, outras foram além, chegando ao judiciário. A análise breve dos casos demonstra que houve avanços em relação aos desdobramentos dos conflitos. As tensões raciais que sempre existiram e contavam sempre com uma rede coorporativa de proteção, atualmente, encontram mais dificuldades para serem silenciadas. Pelos registros, podemos constatar que em todos os casos houve reação dos estudantes cotistas às manifestações de discriminação, contudo, eles não foram os únicos agentes dessas denúncias. Os relatos indicam que os estudantes cotistas não agiram isolados, encontrando em outros colegas solidariedade e parceria na luta contra o preconceito nas suas instituições. Outra constatação é que a maioria dos casos de conflitos tem chegado à opinião pública via publicação nos principais meios de comunicação, proporcionando, de alguma forma, que as instituições tomassem as devidas medidas cabíveis no combate à discriminação. Nos conflitos registrados as manifestações ou ações administrativas discriminatórias sintetizam simbolicamente a mesma visão de mundo em relação aos estudantes cotistas: indicam que esses “novos” estudantes não deveriam estar onde estão. Nesse sentido, seriam tidos como “coisas” fora do lugar. A confecção do artigo nos levou a compartilhar da sugestão de Carvalho (2006) de que é fundamental etnografar todos os incidentes e casos de racismo ocorridos nas universidades para a criação de um banco de dados consistente que possibilitem avaliar evoluções, dimensões, intensidades e repercussões: se mudarão de perfil, se explodirão em conflitos de grandes proporções, ou se declinarão com o tempo como consequência do aprofundamento e da provável generalização do sistema. Entre as poucas conclusões que podemos antecipar é a de que as universidades públicas brasileiras não estão prontas para receber os estudantes cotistas com garantia plena de direitos. E mais especificamente, no que diz respeito aos docentes, é indispensável que as instituições promovam eficiente processo de capacitação. Os professores universitários são peças-chave para promoção do convívio acadêmico, caso se negligencie essa função todo processo de aprendizagem fica comprometido. Referências bibliográficas BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, vol. 1. Brasília: Edunb, 1992. BOURDIEU, P. Razões práticas. Sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus Editora, 1996. CARVALHO, José Jorge de. Inclusão étnica e racial no Brasil: a questão das cotas no ensino superior. São Paulo: Ed. Attar, 2006. CELLARD, A. Análise documental. IN Poupart, Jetal. A pesquisa qualitativa. Enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2010. HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. RJ: Tempo Brasileiro, 2003. SOUZA, Jessé. A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2000.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, MARCELO BARBOSA . CONFLITOS NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/104702-CONFLITOS-NAS-UNIVERSIDADES-NO-CONTEXTO-DAS-ACOES-AFIRMATIVAS. Acesso em: 20/07/2025

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