A POLÍTICA DAS SITUAÇÕES DE PROJETO: UMA INVESTIGAÇÃO TEÓRICA EM TORNO DO PLANO DE METAS DO GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK

Publicado em 25/03/2020 - ISSN: 2526-9933

Título do Trabalho
A POLÍTICA DAS SITUAÇÕES DE PROJETO: UMA INVESTIGAÇÃO TEÓRICA EM TORNO DO PLANO DE METAS DO GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK
Autores
  • Felipe Kaizer Santos
Modalidade
Trabalho Completo
Área temática
Doutorado
Data de Publicação
25/03/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
www.even3.com.br/Anais/spgd_2019/220632-A-POLITICA-DAS-SITUACOES-DE-PROJETO--UMA-INVESTIGACAO-TEORICA-EM-TORNO-DO-PLANO-DE-METAS-DO-GOVERNO-JUSCELINO-KUB
ISSN
2526-9933
Palavras-Chave
CoDesign e políticas públicas, Cultura e sociedade, História do design, História política do Brasil, Administração e planejamento
Resumo
Em geral, nos debates sobre design e política, discute-se o papel dos designers em regimes democráticos, bem como o impacto das diversas manifestações do design sobre o todo da sociedade. Nesses termos, costuma-se então definir o que seria uma prática profissional responsável, assentada sobre as ideias de indivíduo e de moral. Em linhas gerais, essa é a concepção de design presente na obra de autores como Victor Papanek e Gui Bonsiepe. Porém, segundo essa mesma definição, o design figura como instrumento ou ferramenta da política, e, nesse sentido, é subordinado a interesses alheios, sejam eles democráticos ou não. Em outras palavras, o design é considerado "social" ou "democrático" dependendo das causas ou grupos a que serve, e os designers, meros executores de decisões tomadas por outros profissionais ou figuras sociais. Logo, de acordo com uma certa concepção de política, o design é relegado a uma condição heterônoma, o que indica um impasse teórico. Neste artigo, procuramos revelar uma outra relação possível entre design e política, ou, em outras palavras, um tipo de política intrínseca à prática de projeto. Nosso objetivo é o de apontar para uma concepção de design e de política que, entre outras coisas, ponha em evidência o modo como uma pluralidade de agentes, com os mais diversos interesses, atribuições e capacidades, se organiza em torno de um problema comum, dando origem a algo que chamamos de situação de projeto (design situation). Em suma, a situação de projeto formada pelos agentes de projeto determina o desenrolar do processo de projeto (design process) e, consequentemente, os seus produtos. Tal concepção apoia-se sobre o conceito do design como processo, que surge nas décadas subsequentes ao fim da Segunda Guerra Mundial mediante as investigações sobre os métodos sistemáticos de projeto. Tais investigações ocorrem primeiramente na Escola de Ulm, na Alemanha, no fim dos anos 1950, e a seguir nas conferências do movimento Design Methods, a partir de 1962 na Inglaterra. O passo seguinte no sentido de uma teorização mais abstrata do processo de projeto é dado com a publicação nos Estados Unidos em 1969 do livro The Sciences of the Artificial, do cientista político Herbert Simon. Simon concebe uma ciência do artificial cujo objeto é o modo "como as coisas podem ser", em oposição às ciências naturais, que estudam o modo "como as coisas são". No cerne dessa nova ciência encontra-se uma ciência do design (science of design), constituída pelos saberes envolvidos no processo de design. O denominador comum dessas três iniciativas teóricas é a tentativa de assentar a teoria do design sobre bases científicas, de modo a tornar o design uma disciplina bem formulável e ensinável. Por outro lado, historicamente, tais iniciativas levam a um maior intercâmbio entre o design moderno e a área da administração. A partir dos anos 1960, testemunha-se a emergência de uma nova concepção de design, mais ampla que a de desenho industrial, e associada a processos de planejamento e de tomada de decisão. Esse desenvolvimento, por sua vez, prepara o caminho para os estudos atuais sobre o papel do designers e a aplicação das suas formas de conhecimento e ação dentro das organizações. Tendo isso mente, neste artigo, retornarmos a um caso brasileiro de projeto e planejamento do período de apogeu do nacional-desenvolvimentismo nos anos 1950, que ajuda a caracterizar o conceito de situação de projeto. O Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek entre 1956 e 1961 representa uma tal situação, na medida em que promoveu a reorganização de agentes públicos e privados em uma "administração paralela". Com o intuito de efetivar as promessas de campanha em prol do desenvolvimento nacional, o governo Kubitschek adotou uma estratégia administrativa e de projeto que contornou a inércia da burocracia estatal e a oposição do status quo político. Nesse sentido, o Plano de Metas enseja também uma discussão sobre a relação problemática entre o funcionamento regular do Estado democrático de direito e as condições excepcionais dos projetos de governo. Valendo-nos desse exemplo, procuramos, por fim, demonstrar como as situações de projeto são eminentemente políticas, a despeito das linhas hierárquicas que ligam profissionais, stakeholders, conselhos administrativos e equipes executivas. Nesse sentido, ainda que não necessariamente igualitários, os processos de projeto podem ser entendidos afinal como processo políticos, que, como tais, não se deixam prever ou controlar totalmente, e dentro dos quais a retórica cumpre um papel decisivo. Em suma, procuramos explicitar a dimensão política do design, por meio não apenas de um exemplo histórico, mas também de uma revisão conceitual, que vale-se, em linhas gerais, das conclusões de alguns teóricos do design – como Richard Buchanan, além dos já citados – e de uma teoria alternativa à concepção da política como relação entre dominantes e dominados, a saber, a teoria da ação de Hannah Arendt. Para Arendt, a política é constituída pela relação que os agentes estabelecem e mantêm entre si em um contexto bem determinado. Em muitos sentidos, a administração paralela do Plano de Metas constitui um tal contexto, formado por uma pluralidade de agentes. E, como exemplo pioneiro do intercâmbio entre projeto e administração, oferece insights importantes para o saber e o fazer em design hoje.
Título do Evento
5º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do Simpósio de Pós-graduação em Design da Esdi
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI
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Como citar

SANTOS, Felipe Kaizer. A POLÍTICA DAS SITUAÇÕES DE PROJETO: UMA INVESTIGAÇÃO TEÓRICA EM TORNO DO PLANO DE METAS DO GOVERNO JUSCELINO KUBITSCHEK.. In: Anais do Simpósio de Pós-graduação em Design da Esdi. Anais...Rio de Janeiro(RJ) ESDI / UERJ, 2019. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/spgd_2019/220632-A-POLITICA-DAS-SITUACOES-DE-PROJETO--UMA-INVESTIGACAO-TEORICA-EM-TORNO-DO-PLANO-DE-METAS-DO-GOVERNO-JUSCELINO-KUB. Acesso em: 20/04/2024

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