RELATO DE EXPERIÊNCIA – DISPOSITIVO DE RACIALIDADE

Publicado em 19/02/2025 - ISSN: 2675-8563

Título do Trabalho
RELATO DE EXPERIÊNCIA – DISPOSITIVO DE RACIALIDADE
Autores
  • Ana Carolina Mayworm
  • Maria Regina Bortolini de Castro
Modalidade
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS - vivência no ambito acadêmico ou não, de caráter artístico, político, cultural, mas que permitiram aprendizagens significativas para a formação profissional do(a) estudante;
Área temática
CUIDADO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE - Cuidado em saúde transcende a realização de técnicas e aspectos físicos, contempla a compreensão do conceito ampliado de saúde, e envolve uma interação afetiva que respeita, acolhe e considera a diversidade da existência humana. Nesse contexto, a humanização significa dialogar com a singularidade de cada pessoa, reconhecendo suas crenças e valores, compartilhando assim um ambiente de cuidado implicado com a realidade, com as políticas públicas e com a necessidade dos coletivos que vivem nos territórios.
Data de Publicação
19/02/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/scunifasefmp2024/957339-relato-de-experiencia--dispositivo-de-racialidade
ISSN
2675-8563
Palavras-Chave
Racismo, saúde, enfermagem
Resumo
Observa-se no Brasil, ainda hoje, efeitos e estruturas deixadas como marcas do colonialismo. Tal efeito, influencia e molda a sociedade, interferindo em questões como a política, cultura, relações interpessoais e economia. Com isso, intensifica as desigualdades, reforçando as relações de poder e perpetuando o racismo estrutural. A partir desses efeitos, podem ser observados baixos indicadores relacionados a emprego, renda, educação, participação política. Além de que, as múltiplas maneiras e persistência do racismo, podem impactar negativamente a saúde de grupos étnico-raciais não dominantes e estigmatizados. Dentre eles, racismo institucional, que restringe o acesso a recursos e oportunidades, gerando limitações a mobilidade social e criando desigualdades raciais em status socioeconômico e condições de vida. O racismo cultural, que sustenta e amplifica o racismo institucional e interpessoal, criando um ambiente hostil a políticas igualitárias e promovendo estereótipos negativos que afetam a saúde mental. Além disso, a discriminação racial vivida é uma fonte de estresse que pode deteriorar as condições de saúde e modificar comportamentos, aumentando riscos à saúde (WILLIAMS; PRIEST, 2015, p. 1). O boletim "Saúde da População Negra", revela que a mortalidade materna, o acesso a exames pré-natais e as doenças infectocontagiosas apresentam maiores índices entre a população negra. O racismo pode ser identificado como um determinante social e estrutural que impacta negativamente a saúde dos negros ao longo de toda a vida, levando a um tratamento desigual e dificultando o acesso à cuidados médicos adequados (FREITAS MOURA, 2023). Segundo o Instituto de segurança pública, apenas no ano de 2023, registrou que 68,3% das pessoas que sofreram preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional ou LGBTIfobia, eram negras. Diante das iniquidades, vulnerabilidades e violências a que a população negra está submetida, eu sinto que é necessário criar espaços onde a temática racial seja debatida. Nesse sentido, o grupo de estudos surgiu como uma ferramenta que me motivou a pesquisar mais e desempenhou um papel importante em meu desenvolvimento pessoal, me fazendo refletir sobre ações não pensadas e reproduzidas. Pretendo com este relato descrever a minha experiência como participante de projeto de iniciação científica, durante o primeiro e segundo semestre de 2024. A iniciação científica “Dispositivo de Racialidade”, se propõe a ser um espaço de estudo e debate sobre o racismo, a partir da leitura do livro homônimo de Sueli Carneiro. O grupo se encontra em encontros virtuais quinzenais, de 2 horas cada, através de plataforma digital, onde um capítulo por vez é discutido. Os encontros contam com cerca de 30 estudantes, da área da saúde (medicina, psicologia). Após os encontros, cada participante elabora um “diário reflexivo” na forma de texto acadêmico e/ou outras linguagens (poesia, ilustração, etc) onde registram suas impressões e os afetamentos provocados pelo estudo. Na primeira parte do livro discutimos os conceitos de biopoder e dispositivo de poder em Foucault, como a negritude está sob o signo da morte, a violência como modo de subjetivação, epistemicídio, os mecanismos de inferiorização e superioridaderacial, as interdições à negritude. Acompanhamos a construção de Sueli Carneiro do conceito de dispositivo de racialidade. Na segunda parte analisamos testemunhos de pessoas negras, suas histórias de vida, caminhos e resistências. Na terceira parte refletimos sobre o papel da educação na negação e afirmação da negritude. Com os estudos e discussões pude observar que a temática racial atinge camadas mais complexas e profundas, das que estão presentes nos debates do dia a dia. Foi possível rompermos “as bolhas” as quais estamos presos e compreender parte dessas camadas. Eu refleti sobre questões como: relações de poder, a historicidade do racismo, o racismo presente no cotidiano. Em um primeiro momento, estar em um lugar de privilégio, sendo uma mulher branca, me fez duvidar sobre qual era meu lugar de fala e questionar se era correto, alguém que nunca vivenciou “a dor da cor”, como cita Edson Cardoso, defender tais causas. No entanto, ao observar situações de racismo entre amigos, em casa, nos campos de estágio, ou em qualquer lugar que eu fosse, me causou uma inquietação crescente, sendo necessário me aprofundar, ainda que não sendo esse meu lugar de fala, para que eu possa, de alguma maneira, romper com tais violências observadas nesse ciclo ao qual me via. Além disso, fez-me questionar como eu, enquanto acadêmica e futura enfermeira, posso levar tais conhecimentos para o campo de estágio e local de trabalho. A enfermagem exige um atendimento e escuta qualificada, humanizada, empática e integral. No entanto, como ter tais atribuições se estamos moldados a reproduzir comportamentos, mesmo que inconscientes, que propagam o contrário? A experiência do grupo me fez olhar os indivíduos que passavam pelos atendimentos no campo de estágio, para além das patologias que eles apresentavam. Comecei a questionar em quais momentos do meu dia, observava situações de racismo e o que eu poderia fazer para mudar as discriminações, violências e microviolências que testemunhava. Passei a observar o contexto ao qual as pessoas estavam inseridas, como eram ouvidas por outros profissionais, quais falas e ações perpetuavam situações de racismo, tanto entre os profissionais, quanto entre a própria população atendida, como eram suas vivências, qual a importância da educação em saúde para quem tinha menor nível de escolaridade e o impacto disso. A mudança se inicia a partir de reflexões. Vejo a iniciação científica como o ponto de partida para analisarmos essas transformações. Espero que, no futuro, esse espaço se torne mais proeminente e alcance um público mais amplo, permitindo que possamos, juntos, refletir e discutir de forma cada vez mais aprofundada o conceito de racialidade e seus impactos.
Título do Evento
XXX Semana Científica UNIFASE/FMP
Cidade do Evento
Petrópolis
Título dos Anais do Evento
Anais da Semana Científica
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MAYWORM, Ana Carolina; CASTRO, Maria Regina Bortolini de. RELATO DE EXPERIÊNCIA – DISPOSITIVO DE RACIALIDADE.. In: Anais da Semana Científica. Anais...Petrópolis(RJ) UNIFASE/FMP, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/SCUNIFASEFMP2024/957339-RELATO-DE-EXPERIENCIA--DISPOSITIVO-DE-RACIALIDADE. Acesso em: 10/11/2025

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