{{viewModel.configuracaoAnais.tituloAnais}}

Esta publicação eletrônica do documento de Anais do Encontro Regional Nordeste da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) é fruto da realização do IX Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO, que ocorreu entre 31 de outubro a 03 de novembro de 2024 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no campus de Natal/RN.

O IX Encontro da Psicologia Social no Nordeste brasileiro, com o tema “Do Mar ao Sertão: caminhos da Psicologia Social no Nordeste brasileiro”, nos convidou a olhar para as diversas realidades de nossa região, mergulhando nas especificidades e nos desafios que atravessam a atuação da Psicologia Social em nossos territórios. A escolha desse tema partiu de uma decisão e escolha política, consideramos que vivemos em tempos em que as exigências do capital avançam sem precedentes sobre a vida da classe trabalhadora. Nesse evento, em especial, tratamos das implicações para as populações nordestinas. O impacto dos empreendimentos energéticos em expansão no Rio Grande do Norte e na Paraíba é evidente, assim como a violência crescente contra os povos indígenas e os movimentos sociais do campo na Bahia e em Pernambuco. Em Maceió, tragédias urbanas marcam bairros profundamente afetados por décadas de mineração da Braskem; Esses desafios somam-se  com os cortes cada vez maiores em políticas públicas e em direitos trabalhistas perpetrados principalmente após o golpe contra Dilma Rousseff em 2016. Isto não se dá por acaso, as primeiras décadas deste século foram marcadas por uma aceleração nos ataques do capital, cada vez mais exigente no seu movimento de destruição de qualquer forma de vida que não seja direcionada para sua reprodução. 

Frente a esses desafios, esse encontro teve como objetivo reafirmar o nosso compromisso com uma Psicologia Social comprometida com as pessoas e suas lutas, que vá além das fronteiras das clínicas e dos laboratórios, considerando a complexidade social e política da vida. O sofrimento humano que emerge dessas realidades exige de nós, profissionais da Psicologia, uma postura crítica, consciente e ativa. Que nossa prática, então, seja um reflexo desse compromisso social e não se limite à análise de comportamentos isolados, mas atenda ao chamado das demandas coletivas que se impõem, especialmente no Nordeste brasileiro. Vale destacar que, durante a preparação do evento, a comissão executiva teve a decisão política de incluir representantes de movimentos sociais em nossas mesas de debate, reconhecendo a importância de compreender os fenômenos em sua totalidade e de trazer para o diálogo as populações que enfrentam as situações de opressão no cotidiano e que, coletivamente, buscam enfrenta-las. Assim, com a dinâmica do encontro, que contou com mesas redondas, minicursos, apresentações culturais, apresentações de trabalhos e a vivência no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Chico Rodrigues, Ceará Mirim/RN.

O IX Encontro da Psicologia Social no Nordeste obteve mais de 400 inscritos, consagrando-se como um momento fundamental para a troca de conhecimentos, bem como de fortalecimento da atuação da Psicologia Social frente aos desafios específicos da região. Este evento não apenas refletiu sobre o contexto social e político atual, mas também lançou luz sobre as possibilidades de resistência e transformação social. Que as discussões e os conhecimentos gerados neste encontro sirvam como base para futuras ações e para a continuidade do trabalho transformador da Psicologia Social no Nordeste brasileiro.

 Nesse sentido, para orientar os debates de convidadas/os e os trabalhos submetidos pelos participantes, a comissão organizadora definiu os seguintes eixos temáticos:

1. História da Psicologia Social no Nordeste

Este eixo contribui com o tema do evento para fortalecer os debates relacionados à história da Psicologia Social no Brasil a partir da região Nordeste. Para isso, partimos do entendimento da produção sociohistórica deste território como uma região geopoliticamente situada a partir da sua relação intrínseca com outras regiões do Brasil, bem como com a história do país de forma mais ampla. Este eixo acolheu trabalhos voltados para o campo da Psicologia Social e sua história, promovendo reflexões a partir das realidades nordestinas, dos territórios do sertão ao litoral, promovendo no IX Encontro da Regional Nordeste da Abrapso a visibilização das psicologias que se fazem por aqui. A história é entendida não como história linear, no sentido apenas de uma descrição linear de fatos pregressos selecionados, mas de observar e analisar tais fatos a partir também dos atravessamentos contemporâneos sobre o fazer psi, bem como sobre qual(quais) futuros possíveis imaginamos para a Psicologia Social na região. Propõe-se que a questão seja discutida considerando a presença da Psicologia Social nas grandes e pequenas cidades, visto a interiorização da Psicologia, seja nas instituições formadoras, seja com profissionais atuando nas políticas públicas e/ou outras instituições. Quais histórias a Psicologia Social pode compartilhar sobre sua presença na região Nordeste? Pretende-se, assim, acolher trabalhos sobre os mais diversos temas, no formato relatos de pesquisa e/ou prática, sendo estimulado o esforço de olharmos internamente e pensarmos as histórias do fazer psi enquanto ciência e profissão.

2. Atuação Psi em Políticas Públicas Sociais

Neste eixo temático foram discutidos aspectos referentes à atuação da Psicologia em Políticas Públicas Sociais e sobre o papel do Estado na garantia de direitos. Os trabalhos  abordaram a luta por reconhecimento e direitos humanos, emancipação e protagonismo social, além de estudos e intervenções em contextos de vulnerabilidade, risco social e violação de direitos. O debate foi orientado para a análise crítica de processos de inclusão e exclusão, desigualdades sociais e as estratégias para superá-las. Foram abordados temas como metodologias de trabalho, o papel dos psicólogos nos serviços e atuação junto às famílias, comunidades e populações atendidas. Teve como temáticas centrais as questões de reflexão acerca do papel do Estado tanto no desmonte quanto na garantia dos direitos, envolvendo o impacto das políticas públicas sociais, institucionalização e gestão, bem como contradições postas no movimento econômico e político de implementação de políticas públicas no Estado brasileiro, políticas penais e violência do Estado, e implicações do neoliberalismo. Foram também exploradas as interfaces entre Assistência Social, Saúde, Educação e os desafios enfrentados na promoção de direitos em contextos de vulnerabilidade. O objetivo era fomentar um debate crítico e propositivo, frente à desigualdade entre classes sociais, sobre o papel da Psicologia nos contextos de atuação em esferas vulnerabilizadas, com foco nos processos emancipatórios das populações diversas.  

3. Organização Política e Conquista de Direitos

O eixo acolheu trabalhos acadêmicos que discutiam acerca da articulação política e da luta dos movimentos sociais pela garantia de direitos e mudança da realidade social relacionados às diversas dimensões como socioeconômica, étnico-racial, luta pelo território, pela terra, no campo e cidade, pessoas com deficiências, etária, sexual, de gênero, corpos dissidentes, dentre outras. Este eixo propôs compartilhar e discutir conhecimentos, práticas e vivências que dialoguem de forma interseccional com questões relacionadas com políticas públicas, movimentos sociais, ativismo, militância e ações coletivas que lutam pela transformação social e pela superação das desigualdades, opressões e discriminações. Objetivou-se, assim, debater a relação entre psicologia e as diversas formas de organização e luta por direitos, em defesa da democracia, mas igualmente aquelas que tensionam os limites da democracia burguesa apontando para o horizonte de superação do modo de produção capitalista. 

Esses eixos nortearam a recepção e avaliação dos trabalhos, bem como as atividades com convidadas/os. Foram abordados temas variados, com ênfase nas questões sociais e políticas que atravessam a região, com destaque para as lutas de resistência dos movimentos sociais e dos trabalhadores.

O evento contou com modalidades de apresentação diversificadas, incluindo:

a) Comunicações orais: Trabalhos submetidos por estudantes, profissionais e docentes, que foram avaliados por pareceristas ad hoc.

b) Minicursos: Propostas de minicursos que foram acolhidas pela comissão científica, proporcionando aprofundamento em temas relevantes para a Psicologia Social.

     A Regional Nordeste da ABRAPSO tem se organizado de maneira colegiada, o que favoreceu uma construção colaborativa ao longo do processo de elaboração deste evento. Seguindo a forma de trabalho das gestões passadas, os Núcleos da Regional têm desenvolvido uma dinâmica de trabalho horizontal, o que permitiu que, embora o IX Encontro tivesse como sede o Núcleo Rio Grande do Norte, a contribuição dos demais núcleos fosse fundamental nas diversas comissões organizadoras. O evento, portanto, representou uma oportunidade de fortalecer o compromisso ético-político que nos unem em torno da ABRAPSO.

Dito isto, é importante ressaltar que este evento foi planejado por muitas mãos, individuais e institucionais, que contribuíram com dedicação e empenho para que tenha ocorrido. Por isso, gostaríamos de agradecer  todas as pessoas que compuseram as comissões organizadoras: a comissão científica, a equipe de monitoria, a comissão de infraestrutura, a comissão cultural. Agradecemos aos núcleos nordeste da Abrapso, ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN (PPGPSI/UFRN), a Nacional da ABRAPSO, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), as instituições e entidades que apoiaram esta edição do evento, cujas produções estão organizadas neste volume do Anais do Encontro Regional Nordeste da ABRAPSO.

Natal, 19 de marco de 2025,

Lisandra Chaves de Aquino Morais

Vice-Presidência Regional Nordeste – 2024-2025