A “PEQUENA ÁFRICA” DO RIO DE JANEIRO, UM TERRITÓRIO EM DISPUTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AFROTURISMO E REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS

Publicado em 14/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0268-4

Título do Trabalho
A “PEQUENA ÁFRICA” DO RIO DE JANEIRO, UM TERRITÓRIO EM DISPUTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AFROTURISMO E REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS
Autores
  • João Carlos Monteiro
Modalidade
Resumo/Trabalho completo - Apresentação oral
Área temática
Eixo 4: Cidadania, Políticas Públicas territoriais e suas escalas de Gestão
Data de Publicação
14/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ivcongeo/668039-a-pequena-africa-do-rio-de-janeiro-um-territorio-em-disputa--consideracoes-sobre-afroturismo-e-representacoes-
ISBN
978-65-272-0268-4
Palavras-Chave
Afroturismo, Representações, Pequena África
Resumo
Nas ciências humanas, o turismo foi tradicionalmente interpretado como uma atividade pouco influenciada pela dimensão política das relações sociais. Novas abordagens pautadas por uma “virada crítica” nos estudos turísticos (Ateljevic et al., 2007; Bianchi, 2009) reivindicam que para além de aspectos econômicos em torno do lazer, da contemplação e do entretenimento, o turismo pode ser analisado a partir das relações de poder estabelecidas e as disputas que as encerram (Hall, 2009). Uma importante frente de estudos nesse sentido é a interpretação de narrativas, discursos e símbolos sobre espaços turistificados. A construção de imaginários é uma atividade inerentemente política, onde os recortes de classe, raça e gênero perpassam a valorização e a desvalorização de lugares. Neste trabalho, busca-se compreender a dimensão política da turistificação sob a perspectiva das representações espaciais. O enfoque é a construção de representações do espaço urbano a partir do afroturismo, tendo a zona portuária da cidade do Rio de Janeiro como recorte espacial de análise. Nas últimas duas décadas, o turismo no Brasil passou por transformações, em especial pela adição de novos nichos de mercado, dentre eles o afroturismo. O afroturismo propõe valorizar a história da população negra e seus conhecimentos, colocando-se como contraponto a um turismo tradicional que celebra patrimônios e espaços relacionados às conquistas do europeu colonizador e seus descendentes. Trata-se de um novo segmento que, em muitos casos, integra os movimentos de luta contra o racismo e de reconhecimento das culturas afro. A partir de um olhar geográfico, pode-se afirmar que o afroturismo captura novos espaços para a esfera da atividade turística, conduz uma reinterpretação de espaços turistificados e faz emergir novos agentes capazes de diversificar as representações espaciais historicamente estabelecidas, em especial aquelas consagradas por grupos hegemônicos. Na zona portuária do Rio de Janeiro, observa-se na última década um processo de revalorização fundiária que se combina a uma revalorização simbólica da área, comandado pela operação urbana Porto Maravilha. Por um lado, o passado negro da zona portuária é acionado como elemento garantidor de autenticidade e singularidade, indo ao encontro de interesses de agentes hegemônicos no sentido de tornar a área um novo polo de turismo da cidade. Por outro, observa-se o estabelecimento de roteiros e guiamentos afrocentrados que se contrapõem à narrativa oficial do projeto Porto Maravilha, emergindo portanto como uma força contra-hegemônica. Os roteiros afrocentrados são um exemplo de como o turismo pode servir como ferramenta de luta para grupos sociais que querem fazer ouvir suas vozes em processos de disputa por representações especiais. Trata-se de agentes que se contrapõem a construções ideológicas estabelecidas, rompendo com a forma celebratória e amigável que o turismo étnico por vezes mobiliza, e que tende a ignorar as desigualdades sociais enfrentadas pelas comunidades locais. A pesquisa que dá origem a este trabalho está apoiada numa abordagem etnográfica e, portanto, de viés qualitativo. Foram realizados trabalhos de campo, entrevistas semiestruturadas, levantamento em redes sociais e materiais de divulgação relacionados à promoção do turismo na zona portuária do Rio de Janeiro. A participação do autor em guiamentos organizados na área possibilitaram interpretar as representações espaciais acionadas pelo turismo afrocentrado. Os resultados apontam uma multiplicidade de agentes promotores do afroturismo com diferentes abordagens em torno de identidades, memórias e representações do negro na zona portuária. A promoção da chamada “Pequena África” carioca está em sintonia com um movimento global de valorização de “bairros negros” que demonstram relações muitas vezes conflitivas entre memória, turismo e interesses econômicos. Contestações, competições e dissonâncias são elementos inevitáveis nesse processo de revalorização do espaço, e apontam para a importância de avaliarmos as maneiras nas quais o poder é exercido, quais agentes exercem esse poder e como se conformam os arranjos políticos em torno de objetivos específicos (Coles e Church, 2006). A zona portuária do Rio de Janeiro é um território em disputa, e a construção discursiva da “Pequena África” ganha destaque nesse contexto por escancarar as geometrias de poder (Massey, 1993) desigualmente estabelecidas.
Título do Evento
IV Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território (CONGEO)
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território - CONGEO
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MONTEIRO, João Carlos. A “PEQUENA ÁFRICA” DO RIO DE JANEIRO, UM TERRITÓRIO EM DISPUTA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AFROTURISMO E REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território - CONGEO. Anais...Sao Paulo(SP) USP, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/IVCONGEO/668039-A-PEQUENA-AFRICA-DO-RIO-DE-JANEIRO-UM-TERRITORIO-EM-DISPUTA--CONSIDERACOES-SOBRE-AFROTURISMO-E-REPRESENTACOES-. Acesso em: 16/07/2025

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