ENTRE FELICIDADE E MAL-ESTAR: UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A GÊNESE DO SUJEITO DA ATUALIDADE

Publicado em 30/12/2020 - ISBN: 978-65-5941-071-2

Título do Trabalho
ENTRE FELICIDADE E MAL-ESTAR: UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A GÊNESE DO SUJEITO DA ATUALIDADE
Autores
  • Lucas Tadeu De Oliveira Maciel
  • Adriana Rita Sordi
Modalidade
Comunicação oral (Resumo expandido)
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
30/12/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2020/270039-entre-felicidade-e-mal-estar---um-olhar-psicanalitico-sobre-a-genese-do-sujeito-da-atualidade
ISBN
978-65-5941-071-2
Palavras-Chave
Sujeito. Mal-Estar. Felicidade. Gênese. Mercantilização. Laço Social.
Resumo
RESUMO: Este trabalho teve o objetivo de compreender a gênese do sujeito da atualidade, ou seja, como se constitui um sujeito que, diante de tantas mudanças e das ofertas de felicidade advindas do capitalismo, adoece. Este trabalho é válido e se justifica por advir de demandas da clínica-escola, de sujeitos que se apresentam com um discurso de desamparo, que gera sofrimento, um sofrimento que não se aplaca com bens de consumo nem com as intervenções da ciência. O presente artigo buscou compreender a gênese do sujeito da atualidade sob o olhar da psicanálise. Para tanto fez-se necessário contextualizar o mal-estar do sujeito desde como proposto por Freud até os dias de hoje. Seguindo a esteira de Lacan, abordando a questão da mercantilização dos laços sociais e da consequente segregação que esse discurso promove, bem como verificando as conexões entre essa mercantilização e a constituição do sujeito atual. Só assim foi possível compreender melhor de que sujeito estamos falando e poder situar a psicologia neste contexto. Parte-se de um sujeito marcado pelo enfraquecimento dos laços sociais, um sujeito sem rumo, desamparado. Levando-se em conta que o mal-estar é inerente a sociedade, mas que cada época produz formas de sofrimento e de lidar com ele, que tem a ver com seu sistema constituinte, que em nosso caso é o capitalismo, pudemos efetuar discussões que possibilitaram responder algumas questões e levantar outras. Optou-se por uma pesquisa teórica de cunho documental através do método bibliográfico, partindo-se de uma revisão de literatura em livros, teses e dissertações, bem como de artigos científicos que norteiam os estudos sobre os laços sociais na atualidade. Como resultado verificou-se que o mal-estar sinalizado por Freud permanece vivo e mais pulsante que nunca. Bem como, a felicidade, continua a ser uma busca individual e sem garantias. Compreendemos, que o sujeito de que se trata na atualidade é um sujeito mercantilizado, transformado em mercadoria, produto de um discurso capitalista que mais segrega que faz laço, um sujeito que nasce de um paradoxo entre as exigências da civilização e as ofertas de felicidade. O discurso capitalista se pluraliza e ao invés de auxiliar o sujeito, apenas o aprisiona, diminuindo suas formas de criação, de expressão de uma singularidade, atualizando seu mal-estar e deixando-o, um sujeito sem rumo. O que temos então é um sujeito forjado na virada de século, mercantilizado, com expectativas elevadas e cada vez mais depressivos e solitários, a promessa de felicidade não se fez cumprir. Há uma tentativa de normatizar o sujeito, torna-lo uno, contável e explicável pela ciência, num movimento que reduz o ser a nada, sem valor e gera adoecimento psíquico. Desta forma, temos um sujeito impossibilitado de reconhecer seu desejo e de se reconhecer desejante, dado que suas possibilidades de desejo parecem restritas ao que lhe é oferecido como garantidor de estabilidade, de uma homeostase, que tem que ver como pulsão de morte, no sentido de morte do desejo. Daí que, embebido pelo discurso capitalista, o sujeito que almeja não ser dividido, mas sim uno, completo, inteiro, segue, sem plena consciência rumo a sua destruição. O desejo que é fruto do que falta ao sujeito, não encontra lugar numa sociedade em que tenta-se a todo custo preencher, tornar completos os seres. Entendemos que estamos diante de um sujeito mercantilizado, que nasce numa época em que o DC domina a cena, segregando os sujeitos e utilizando-se deles apenas para fortalecer o sistema econômico no qual se estrutura a sociedade. Não são só os afetos que são transformados em mercadoria, mas também os sujeitos que são trados como tal, rotulados, descartados e gerados para girar a máquina. Temos então que a gênese do sujeito da atualidade se dá no paradoxo bem atual entre a demanda de uma felicidade prêt-à-porter, do tudo poder, do gozo desenfreado, contrapondo-se à estrutura constituinte de nossa sociedade como teorizada por Freud. Nos constituímos num paradoxo de uma civilização em que cada um tem que ceder um pouco para que ela se torne possível sem, contudo, queremos abdicar de toda a felicidade. Assim, vemos a cada dia o aumento da ansiedade, das depressões, das toxicomanias, do suicídio, que parecem ser, salvo raras exceções, tentativas desesperadas e fracassadas de se chegar num equilíbrio. Vemos sujeitos que ao se depararem com o Real, o impossível de simbolizar para Lacan, ficam paralisados, em pânico e correm para o mercado mais próximo a fim de não olhar para o que se lhes apresenta, sem possibilidades de simbolizar o que sentem, tentam fugir ou anestesiar-se ante as situações adversas a que somos expostos todos os dias. Entendemos que este sujeito precisa ser olhado pelo viés de uma ética, como proposta pela psicanálise, a ética do bem dizer, em que o sujeito pode sair do lugar de objeto, de mercadoria, para o de sujeito desejante e a partir daí fazer algo singular com seu sintoma, nomeá-lo. A ideia é que a psicologia possa se servir desta ética não para psicanalisar esta ciência, mas para não cair nos engodos que o discurso capitalista promove, abrindo espaço para a falta-a-ser que nos habita e que não pode ser tamponada com gadgets disponíveis em nossa cultura. Conclui-se que que é preciso questionar isso que nos vendem como felicidade, tentar escutar o que se diz por trás disso, escamotear esse discurso e esse desejo, chegando a uma forma singular de dizer isso. Acredita-se, assim, que o sujeito possa se encontrar com aquilo de mais íntimo, mais próprio e fazer escolhas, inventando saídas para a sua vida e não da sua vida. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. A Política. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1985. BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dente-zien. Rio de Janeiro: Zahar,2001. LISPECTOR, C. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. DUNKER, C. I. L. Mal-Estar, sofrimento e sintoma. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2005. FREUD, S. (1910). A concepção Psicanalítica da Perturbação Psicogênica da Visão. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. VOL: XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____________. (1911). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. 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Título do Evento
CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MACIEL, Lucas Tadeu De Oliveira; SORDI, Adriana Rita. ENTRE FELICIDADE E MAL-ESTAR: UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A GÊNESE DO SUJEITO DA ATUALIDADE.. In: Anais do CONIGRAN 2020 - Congresso Integrado UNIGRAN Capital. Anais...Campo Grande(MS) UNIGRAN Capital, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2020/270039-ENTRE-FELICIDADE-E-MAL-ESTAR---UM-OLHAR-PSICANALITICO-SOBRE-A-GENESE-DO-SUJEITO-DA-ATUALIDADE. Acesso em: 05/10/2024

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