Título do Trabalho
PSICOLOGIA COM ARTE: COSTURAS GESTÁLTICAS
Autores
  • Laura Cristina de Toledo Quadros
  • Erika da Silva Araujo
  • Deborah da Silva de Souza
Modalidade
Mesa redonda
Área temática
4. ARTE, CORPO E EXPERIMENTAÇÕES: 4.3 Arte, estética e formas de expressão dialógica no trabalho clínico.
Data de Publicação
23/12/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cgtrio22/522725-psicologia-com-arte--costuras-gestalticas
ISBN
978-85-5722-491-9
Palavras-Chave
Gestalt-terapia, Cuidado, Arte, Artesania, Fazer sensível.
Resumo
Pensar a arte como recurso, não é novo para quem atua na Gestalt-terapia Propomos trazer essa conjugação Psicologia-arte para além da instrumentalização, mas como constituidora de diferentes modos de existência que não encontram contornos num fazer predominantemente racional. Nessa reflexão que chamamos de costura gestáltica, abrangemos a clínica, a pesquisa e a vida num fazer que pulsa, não segrega e não despreza as afetações vividas. Laura Perls já trazia tanto em seu percurso quanto em sua prática um diálogo com a arte, incluindo as implicações da/o psicoterapeuta no confronto com a experiência de fazer e viver com a arte. Esse fazer COM arte refere-se ao sensível, as múltiplas linguagens que permeiam a expressão e a atuação gestáltica. No rastro de Souriau (1983), compreendemos a arte como atividade instauradora que nos conduz à existência e nos torna presença. Ao acessarmos possibilidades criadoras afirmamos a vida (Zinker, 2007), daí a potência dessa costura feita a mão, constituindo-se numa artesania que convoca tanto a beleza quanto a estranheza, produzindo inquietações pois precisamos enfrentar diversas ordenações estéticas. É nesse movimento que nos encontramos. Artesanias na clínica, na vida e na pesquisa: modos de existir e sustentar um fazer Laura Cristina de Toledo Quadros Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Instituto de Psicologia/PPGPS/UERJ Resumo No percurso da vida, abrangendo da infância à maturidade, nos deparamos com muitas perguntas intrigantes, tais como: “Mas, até onde vai o infinito?”; “O que acontece depois que a gente morre?” “Eu vou ficar curada?”; “Tudo vai dar certo?”. Por mais que a ciência tenha alcançado avanços fenomenais nos últimos séculos, o fato que é que ela não pode responder tudo e nem sempre pode precisar as respostas possíveis. Acredito que é talvez nesses interstícios que nós psicoterapeutas habitamos: o lugar das perguntas sem respostas. Antes de pensar esse lugar como um espaço esvaziado ou sem cor, creio que é exatamente nessa lacuna que as possibilidades criativas acontecem. Segundo Zinker em sua obra emblemática, “A criatividade representa a ruptura dos limites, a afirmação da vida além da vida - a vida se encaminhando para algo além de si própria. Em sua própria integridade, a vida pede para confirmarmos nossa natureza intrínseca, nossa essência como seres humanos” (ZINKER, 2007 p. 16). Perls (1981), inspirado no zen budismo, faz referência ao vazio fértil, chamando-nos a atenção para importância de sustentar esse lugar, sustentar a experiência do contato para que possamos acessar o novo e reconhecer o que está ao nosso redor. Partindo dessa perspectiva, ficar sem respostas pode nos movimentar, nos inquietar em nossa condição humana. Enquanto Gestalt-terapeutas havemos de suportar, resistir a ação de preencher essas lacunas que pertencem a vivência singular de cada pessoa e, no encontro, o que ecoa é como afetamos e somos afetados pelo processo. Assim, trabalhamos com o indizível, com o invisível, porém presente. É nessa vivência que a vida se instaura e, ao nosso ver, se instaura com arte ou como arte. A arte é uma das possibilidades de preenchimento dessas lacunas, porém tal preenchimento não se faz de modo definido ou chapado; ao contrário, se faz fluído, móvel, com multiplicidade de sentidos. Ao estarmos, por exemplo, diante de uma expressão artística como música, poesia, cinema, pintura, escultura, etc, o modo como a percebemos é o modo como ela acessa nossas sensibilidades, ampliando também nossas próprias possibilidades expressivas. Nesse sentido, perceber é participar (LAPOUJADE, 2017) e estar em contato com a arte produz o novo, o sentido do indizível, aproximando vida, arte e psicologia, em especial a Gestalt-terapia que nos convoca a diversas expressividades. Segundo Prestrelo e Quadros (2009), a abordagem gestáltica traz como fundamento a ênfase na experiência consciente subjetiva e na sensorialidade, mobilizando o sofrimento que transcende a palavra, resgatando a dimensão sensível da experiência e privilegiando o sentir mais do que o explicar. Dessa forma, o cuidado nessa perspectiva é uma construção que se faz na relação e, a meu ver, se faz nessa costura manual, artesanal, única. Assim como Juliano nos convoca a arte de restaurar histórias (1999), Souriau (1983) nos alerta que cada modo de existência é uma arte de existir. Ao trazermos a arte como provocação, convocação ou metáfora, estamos costurando muitos possíveis, no miúdo, nos pequenos acontecimentos do cotidiano (QUADROS, 2014). Em consonância com a sábia colocação de Laura Perls (1992), a Gestalt-terapia, encharcada de pistas intuitivas, talvez esteja mais próxima da arte do que da ciência. Considerando a inovação de sustentarmos essa forma de fazer, ousaria afirmar que o que criamos com nossas práticas é sim um modo de existir na ciência, modo esse que acolhe as perguntas sem o imperativo das respostas. Aquarelas, pesquisa e clínica: diálogos gestálticos na construção de um fazer com arte Erika da Silva Araujo Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ/ financiamento Bolsa CAPES Resumo Este trabalho se propõe a contar uma história do encontro entre a pesquisa, a clínica, a Gestalt-terapia e a arte partindo da trajetória de uma pesquisadora, psicóloga e amante das aquarelas. Contar histórias vem se mostrando como metodologia de pesquisa importante (PRESTRELO, 2019) na articulação de mundos, permitindo que as controvérsias e as articulações inusitadas nos permitam reconhecer e identificar aquilo que não assumido como importante a priori, mas que surge a partir do campo pesquisado. Prestrelo (2019) nos trouxe de forma impactante o ato de contar histórias como metodologia em sua pesquisa, ressaltando sua importância em como narramos e construímos novas possibilidades e articulações em um campo ético-político. Nesse trabalho contarei brevemente a minha trajetória atravessada pela relação estabelecida com o contato com a pintura com aquarela, que me foi um importante recurso durante a elaboração da minha tese de doutorado (ARAUJO, 2021). Trata-se de uma narrativa permeada pelo que a arte convocou a rever, escrever e criar. Convido a quem aceitar me seguir que, de forma gestáltica, abandone a segurança de uma linearidade nessa trajetória, pois ela se inicia pelo último dos encontros, a arte, que por suas próprias características nos permite entrar em contato com sutilezas não percebidas no caminho. O encontro com a aquarela, que aconteceu como forma de lidar com o confinamento exigido pela pandemia do COVID19, trouxe desafios, frustrações e descobertas. A interação com materiais de diferentes características de fluidez e texturas resultavam em diferentes possibilidades para os mesmos arranjos de materiais. Mais que uma metáfora, que por si já seria interessante como uma experiência de contato, a aquarela enquanto técnica artística convoca a olhar as nuances entre a interação dos materiais e quem os maneja. É nessa interação sensível que acontece o que chamamos de arte, que acontece no encontro com o material, sua história, desdobramentos e resultados inusitados. Dessa forma, proponho trazer uma leitura atualizada de meu percurso em diferentes momentos: na pesquisa em ciências biológicas, uma ciência num formato de pesquisa mais convencional, impessoal; no encontro com a psicologia, em especial com a clínica gestáltica; no encontro com a aquarela; e no doutorado em psicologia social, onde a aquarela teve um papel fundamental. Ela foi um mediador para ajudar a compreender e ler o campo a partir de um olhar mais sensível às interações que normalmente são invisibilizadas, como atores não humanos que se mostram e produzem formas de fazer e ser enquanto compõe o campo vivido. Refletir esse fazer com outras mulheres na ciência foi fundamental para compreender a necessidade de se fazer uma ciência no feminino (MORAES; QUADROS, 2020), que implique no reconhecimento de um conjunto de práticas de pesquisar e fazer COM que valorizam um fazer sensível e suas articulações capazes de enriquecer, deslocar e dar visibilidade a temas negligenciados. A aquarela surgiu como elemento fundamental para uma outra forma de pesquisar, sensível e implicada e, de semelhante forma, a arte também ganhou mais espaço na prática clínica, na liberdade e disponibilidade de acolher as suas reverberações tão diversas nos encontros na clínica. O espaço das artes, entre elas a aquarela, ganharam um novo contorno, contorno que se dá de forma singular, e permeada de um fazer-COM em cada encontro, não se reduzindo mais a mais uma técnica para um fim, mas passando a ser ator fundamental nos diálogos que ali se estabelecem. Assim, esse trabalho buscou compartilhar a experiência de autorizar que a arte, aqui na forma de aquarela, seja guia na proposta de oferecer novas provocações que enriqueçam não apenas o diálogo, mas também atue permitindo múltiplas configurações de leitura do campo: da história de vida, da pesquisa, da escrita e da clínica. Tecendo sentidos no encontro entre cartas, arte, pesquisa e Gestalt-terapia Deborah da Silva de Souza (PPGPS-UERJ) / Bolsista FAPERJ Nota 10 Resumo Ao longo dos anos, as cartas transmitem conteúdos políticos, históricos, contextos sociais, vivências cotidianas. Existem algumas peculiaridades importantes em sua escrita, pois ela nos permite debruçar em uma linguagem que carrega afetos, sentidos, que fala de um lugar situado, que conta histórias passadas. Além disso, a carta narra experiências singulares e gera proximidades consigo e com quem ou o com o que se endereça a escrita, permitindo escrever em primeira pessoa e ter um lugar ativo na narrativa construída. Deste modo, escrever cartas nos convoca a diálogos interessantes com a abordagem gestáltica, visto que um dos intuitos fundamentais da Gestalt-terapia é convidar o sujeito a resgatar seu lugar ativo, diante das possibilidades de contato consigo e com o mundo. Contudo, o cenário contemporâneo, em muitos momentos, nos afasta de uma conexão sensível com nossa própria história, assim, torna-se importante afirmar formas mais sensíveis de fazer psicologia, de fazer com o outro e não sobre ele (MORAES, 2010). Diante disso, vale ressaltar que o presente texto é um recorte de uma pesquisa de doutorado em andamento da autora, na qual aposta na escrita e na troca de cartas na academia, desde o mestrado, seguindo com uma forma metodológica que cria outros modos de dialogar com o campo de pesquisa, afirmando ainda que a carta constrói um fazer que não se propõe rígido, apesar de ser rigoroso (SOUZA; QUADROS, 2019). A Gestalt-terapia, como uma abordagem viva que está sempre se fazendo, nos convida a atualizar propostas inventivas, sendo desvios e movimentos necessários a serem apresentados para que as pessoas possam também se convidar a se reinventar diante de suas vidas. A arte nos ajuda a pensar neste sentido, pois seguindo o que nos coloca Veras (2016), os artistas podem furar o véu do sonambulismo que as excessivas demandas contemporâneas colocam facilmente em nossas vidas, revelando novamente o brilho e a beleza do existir. No documentário A vida não basta (2013), o escritor Milton Hatoum nos diz que a arte está dentro de nós, visto que ela é invenção de outros mundos, com formas e linguagens diferentes, já o poeta Ferreira Gullar coloca que o homem é um ser que está sempre inventando a sua vida. Logo, o objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de escrita e de troca de cartas, seguindo as narrativas dos atores e buscando compreender com eles o sentido da arte em suas vidas. Para isso, nos fundamentamos na Gestalt-terapia e na Teoria Ator-Rede. Neste sentido, serão apresentados os materiais colhidos através das trocas de cartas entre a pesquisadora e o campo, que contam histórias sobre: as experiências de formação na graduação em Psicologia, sendo acompanhadas pela abordagem gestáltica, na qual a arte fez parte deste processo ao oferecer suporte de atuação em projetos de extensão e iniciação científica; os relatos de quem vivenciou o outro lado e fez parte como cliente do projeto de pesquisa e o quanto estar em contato com a arte fez resgatar vontades que antes não existiam ou desfazer alguns nós que existiam; as narrativas de quem se reencontrou com a arte durante a pandemia e a sustentação disso em sua vida; a escrita de quem utiliza a arte para aumentar o repertório expressivo dos clientes na clínica em Gestalt-terapia; as vivências de quem nem passou pela academia, mas relata que só de fazer um bordadinho e um crochêsinho, já se anima, entre outras. Ademais, o encontro entre pesquisadora e campo, tecido pelas cartas e pela arte, permitiu se deixar arriscar, afetar e produzir sentidos pelo que foi vivido na pesquisa como um processo artesanal (QUADROS, 2021). Seguimos os rastros de Quadros e Prestrelo (2019), quando dizem que fazemos sim algo diferente, mas mantendo a seriedade marcada pelo olhar sensível. Assim, fica o convite para que nos lancemos no fazer Psicologia, com criatividade, com ética e com sensibilidade, a buscar formas outras de escrever, pesquisar e clinicar.
Título do Evento
VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado de Rio de Janeiro
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

TOLEDO QUADROS, Laura Cristina de; ARAUJO, Erika da Silva; SOUZA, Deborah da Silva de. PSICOLOGIA COM ARTE: COSTURAS GESTÁLTICAS.. In: Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Hotel Windsor Guanabara, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/CGTRIO22/522725-PSICOLOGIA-COM-ARTE--COSTURAS-GESTALTICAS. Acesso em: 15/03/2025

Trabalho

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