A FINANCEIRIZAÇÃO NO BRASIL A PARTIR DA CRÍTICA PÓS-KEYNESIANA À POLÍTICA MONETÁRIA NEOCLÁSSICA

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
A FINANCEIRIZAÇÃO NO BRASIL A PARTIR DA CRÍTICA PÓS-KEYNESIANA À POLÍTICA MONETÁRIA NEOCLÁSSICA
Autores
  • Morgana Tolentino
  • Bruno Mader Lins
Modalidade
Resumo Expandido (não associado AKB)
Área temática
Área 6. Economia Monetária e Financeira
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/897443-a-financeirizacao-no-brasil-a-partir-da-critica-pos-keynesiana-a-politica-monetaria-neoclassica
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Financeirização, SELIC, Taxa Justa de Pasinetti, Política Monetária, Conflito Distributivo
Resumo
O fenômeno da financeirização tem sido objeto de estudo cada vez mais relevante para as discussões econômicas atuais. Trata-se de um fenômeno amplo, que tem afetado as estruturas produtivas e o cotidiano da população global nas últimas décadas. Para Natascha van der Zwan (2014), a financeirização é entendida como um processo de mudanças estruturais em que o predomínio do setor financeiro global alterou as bases da economia industrial. Nesse sentido, é um fenômeno que pode ser observado a partir de diversos aspectos, como, por exemplo, a lógica marxista de mudanças no regime de acumulação; do ponto de vista mais microeconômico da lógica de produção das empresas, com o crescimento do valor para o acionista – shareholder value; ou mesmo através da financeirização no dia-a-dia das pessoas (VAN DER ZWAN, 2014). Dada a amplitude desse fenômeno, as definições do que é “financeirização” são, de fato, diversas. Para o escopo do presente trabalho, destacam-se as seguintes definições que guiarão a análise aqui proposta (avaliar a financeirização no Brasil ao longo do século XXI): Para Palley (2013) a financeirização é caracterizada pela dominação da macroeconomia e da política econômica pelos interesses do setor financeiro. Em Epstein (2005), a financeirização define-se por uma predominância cada vez maior das forças, dos mercados e dos atores financeiros e instituições financeiras na operação das economias. Já Boyer (2000) afirma que na financeirização os elementos da demanda agregada enfrentam as consequências do domínio das finanças. A financeirização no Brasil já foi estudada sob diversos aspectos, como: através da política social (LAVINAS, 2017; LAVINAS et al., 2022); a partir do financiamento imobiliário (LAVINAS, ARAÚJO e RUBIN, 2023); do ponto de vista das empresas (DOURADO, 2020); através do mercado de capitais (LAVINAS, ARAÚJO e GENTIL, 2021); observando a educação (BRESSAN, 2020; CARVALHAES, MEDEIROS e SANTOS, 2022), entre outros. O presente trabalho oferece uma análise a partir de um novo ângulo. Tendo como base a crítica pós-keynesiana à política monetária neoclássica, busca-se entender como, durante os anos do século XXI, a política monetária adotada serviu como um canal de financeirização, influenciando o conflito distributivo em favor dos credores – os rentistas – e favorecendo o fluxo de rendas financeiras em detrimento das rendas do setor real. Mais especificamente, parte-se do arcabouço da taxa de juros justa, proposto por Pasinetti (1380-81; 1981), em que a economia deveria buscar uma taxa de juros tal que se manteria, ao final do contrato, o poder de compra do montante emprestado. Isso porque entende-se a inflação como um fenômeno distributivo, ou seja, a principal dinâmica de determinação de preços de uma economia vem da disputa de forças no conflito distributivo e a taxa de juros não deveria, portanto, influenciar essa balança da distribuição funcional da renda. Já no modelo predominante nos dias atuais (o neoclássico), o objetivo primário do banco central é perseguir uma meta de inflação (pré-determinada) utilizando a taxa de juros de curto prazo como instrumento para atingir seus objetivos. A taxa de juros, nesse caso, é entendida como um custo que afeta determinados componentes da renda (principalmente o investimento). Caso a inflação esteja acima da meta, o banco central então aumenta os juros, afetando esses componentes mais sensíveis que ajustaram sua produção de curto prazo, impactando o nível de preços. No longo prazo, todas as variáveis reais tendem ao seu nível “natural” (nos moldes wicksellianos) e a política monetária não tem, portanto, como afetá-las. Contudo, como já dito, para o arcabouço teórico pós-keynesiano, esse não é o papel do banco central e essa não é a política monetária ideal, pois o principal efeito da taxa de juros real da economia se daria, de fato, sobre a distribuição de renda. O mecanismo principal de transmissão da política monetária seria, portanto, o conflito distributivo e não o canal de custos (LAVOIE e SECCARECCIA, 2019). O modelo de Pasinetti, então, advoga pelo uso de uma taxa justa, que mantenha inalterada a distribuição intertemporal da renda. Nesse sentido, se a taxa de juros real está acima da taxa justa ela está influenciando a distribuição de renda em favor do credor. Diante de uma análise da financeirização, portanto, uma taxa de juros acima da taxa justa estaria funcionando como um canal de financeirização, já que estaria favorecendo as rendas financeiras (não produtivas) em detrimento das rendas produtivas. Para Pasinetti (1980-81; 1981), a taxa de juros justa é tal que a taxa de juros real deve ser equivalente ao crescimento da produtividade do trabalho, de modo a manter inalterada a distribuição funcional da renda. Lavoie e Seccareccia (2019) propuseram uma nova abordagem: em uma economia onde a participação dos lucros não fosse fixa no tempo, a taxa de juros justa deveria ser a taxa que iguala a taxa de crescimento dos salários reais. Partindo desse entendimento, o presente trabalho traz uma análise da evolução da taxa de juros real em comparação à taxa de crescimento da produtividade do trabalho no Brasil a partir dos anos 2000, quando o país, por acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), oficializa uma política de tripé macroeconômico: câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal (OREIRO e DE PAULA, 2021). Utilizando o escopo da taxa justa de Pasinetti (1980-81; 1981), busca-se entender a trajetória das variáveis analisadas durante o período selecionado e a relação que elas apresentam entre si. Também se analisa a evolução da taxa de juros em comparação à evolução da taxa de crescimento dos salários reais médios, conforme a inovação proposta por Lavoie e Seccareccia (2019). Com isso, busca-se comparar os efeitos da política monetária neoliberal com o que seria uma política monetária condizente com o arcabouço pós-keynesiano, buscando entender, assim, como a adoção dessa política neoliberal no Brasil funciona como um instrumento de financeirização. A hipótese do trabalho é de que a adoção do arcabouço neoliberal na política econômica brasileira estimula o processo de financeirização no país. Mais especificamente, diante do conceito de taxa justa de Pasinetti, a adoção de uma política monetária neoclássica em que a taxa de juros da economia esteja acima da taxa de juros justa leva a um favorecimento das rendas financeiras, em detrimento das rendas reais, funcionando, assim, como um canal de financeirização e de concentração da riqueza. Os dados analisados são: referentes à Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, e provenientes do Banco Central do Brasil (BCB); referentes aos índices de inflação (IPCA e IGPM) e provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV); referentes à produtividade do trabalho, provenientes do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, da FGV; e referentes aos salários médios, provenientes da RAIS, base disponibilizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A análise dos dados corrobora o entendimento de que a política monetária neoclássica aplicada no Brasil a partir da oficialização do tripé macroeconômico interfere no conflito distributivo em favor dos credores, ou seja, aumentando a participação das rendas oriundas de atividades financeiras no total da renda da economia, o que a caracteriza como um canal de estímulo à financeirização no país.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

TOLENTINO, Morgana; LINS, Bruno Mader. A FINANCEIRIZAÇÃO NO BRASIL A PARTIR DA CRÍTICA PÓS-KEYNESIANA À POLÍTICA MONETÁRIA NEOCLÁSSICA.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/897443-A-FINANCEIRIZACAO-NO-BRASIL-A-PARTIR-DA-CRITICA-POS-KEYNESIANA-A-POLITICA-MONETARIA-NEOCLASSICA. Acesso em: 30/06/2025

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