"FALA MAJETÉ, FALA!": TERRITÓRIO, CIDADE E AS TANTAS ESTAMIRAS DESSE CHÃO

Publicado em 02/10/2024 - ISBN: 978-65-272-0753-5

Título do Trabalho
"FALA MAJETÉ, FALA!": TERRITÓRIO, CIDADE E AS TANTAS ESTAMIRAS DESSE CHÃO
Autores
  • Gerson Ramos Brandão
  • liz flôres fernandes da silva
  • Zaira Beatriz Alvarenga de Mendonça
  • Matheus Gomes dos Santos e Silva
Modalidade
Comunicações Orais - apresentação presencial.
Área temática
Saúde
Data de Publicação
02/10/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/1cinalc-e-v-coloquio-raca-e-interseccionalidades-387936/787569-fala-majete-fala--territorio-cidade-e-as-tantas-estamiras-desse-chao
ISBN
978-65-272-0753-5
Palavras-Chave
Saúde Mental, Território e Antimanicomialidade
Resumo
PTG PT1 4059 CAMBIO, EXU! FALA MAJETÉ, FALA! Estamira é apresentada no documentário autointitulado “Estamira” de 2006, dirigido por Marcos Prado. Ela se apresenta dizendo: “Sou louca, sou doida, sou maluca, sou advogada, sou essas quatro coisas, porém consciente, lúcido e ciente sentimentalmente” (PRADO,2006). Nesse sentido, a pessoa/personagem constrói um modo de se colocar no campo da loucura ampliando-o para além dos estigmas. Estamira hackeia a concepção estabelecida socialmente do ser louco como algo pejorativo e aprisionador na medida que expõe esse caráter e se recoloca para além dele. Aos 63 anos, trabalhadora do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, Estamira brinca com as palavras e se utiliza de trocadilhos que vão compondo uma filosofia capaz de produzir uma fissura no território aprisionador da loucura. Ouvir Estamira falar é presenciar o mecanismo que ela encontrou para se esquivar da máscara do silenciamento que, como retrata Grada Kilomba, tem como função “implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e tortura” (KILOMBA, 2019). Sendo assim, a máscara se coloca como estrutura colonial que gerencia as relações sociais nos quais os corpos negros e loucos são tidos como “outros”, cuja a fala deve ser interditada e mutada. Grada Kilomba provoca essa estrutura quando resgata a pergunta de Gayatri C. Spivak: “Pode a subalterna falar?”. Lélia Gonzalez enuncia que os corpos negros encontram-se na lata de lixo da sociedade brasileira por meio de uma lógica de dominação e domesticação. Tal enunciado torna-se ainda mais gritante quando, em paralelo, localizamos Estamira em um aterro sanitário ou, como é popularmente conhecido, lixão. Gonzalez compreende o falar como risco aos sujeitos marginalizados, pois estes têm “[...] sido falados, infantilizados (infans é aquele que não pode falar por conta própria, é a criança que se fala em terceira pessoa, porque falada pelos adultos) ” (GONZALEZ, 2020). Todavia, esse é o risco que Estamira assume ao jogar com as palavras e tentar dizer de si e do mundo. Com isso, Lélia e Estamira demarcam que “o lixo vai falar, e numa boa” (GONZALEZ, 1984). Além de assumir o risco de falar, há ainda outra barreira que é a impossibilidade de ser ouvida. Estamira está falando, mas no fim a questão é que é necessário afinar os ouvidos para ouvir o que ela tem a nos dizer. Portanto, Estamira nos adverte que é importante defendermos os lemas da Reforma Psiquiátrica brasileira e da Luta Antimanicomial, onde se pensa o território e a cidade, como lugar acessível a todos, inclusive para os ditos loucos. Por isso, devemos estar atentos e lutar sempre contra a lógica manicomial que prega o silenciamento e assujeitamento, visando, assim, não perpetuar a ideia do território como um manicômio a céu aberto.
Título do Evento
I CINALC e V Colóquio Raça e Interseccionalidades
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Discursos, Memórias Negras e Esperança na América Latina
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BRANDÃO, Gerson Ramos et al.. "FALA MAJETÉ, FALA!": TERRITÓRIO, CIDADE E AS TANTAS ESTAMIRAS DESSE CHÃO.. In: Discursos, Memórias Negras e Esperança na América Latina. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/1cinalc-e-v-coloquio-raca-e-interseccionalidades-387936/787569-FALA-MAJETE-FALA--TERRITORIO-CIDADE-E-AS-TANTAS-ESTAMIRAS-DESSE-CHAO. Acesso em: 13/08/2025

Trabalho

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