Desde 2019, o Terreiro São Jorge Filho da Goméia, de Lauro de
Freitas, promove a Caminhada Tembwa Ngeemba, expressão bantu que quer
dizer “tempo de paz”. Agosto é o mês escolhido para essa mobilização,
que chega a sua sexta edição em 2024.
E por que agosto?
No candomblé, é em
agosto que são celebradas energias ligadas à cura física e espiritual.
Os inquices Nsumbo, Zumbá e Angorô (que têm correspondência com os orixás
Omolu, Nanã e Oxumaré, respectivamente), são de grande relevância para a
religião porque dizem respeito à íntima relação dos seres humanos com a terra,
o universo e toda a sua complexidade.
É também nesse mês que
se festeja Tembwa (Tempo). Representada por uma árvore, essa divindade traduz
a compreensão da importância de se preservar o respeito ao passado, à
ancestralidade, traduzida por suas raízes; de enxergar a importância de construção
de um presente forte e sólido, traduzida por seu tronco; bem como do quanto
esses dois aspectos apontam para o desenvolvimento de um futuro positivo e
sustentável, simbolizado por sua copa. É para Tempo que se voltam os
pensamentos, planejamentos e construções de vida.
Foi também em agosto, há
226 anos, que, no Brasil, negros escravizados, libertos e trabalhadores
lideraram um dos principais levantes contra as injustiças da coroa portuguesa,
na chamada Revolta dos Búzios. A mensagem espalhada por Salvador pelas
lideranças do movimento, na época, ecoa até hoje como inspiração para a luta
por igualdade e respeito racial. “Animai-vos povo baiense que está para
chegar o tempo feliz da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos, o
tempo em que todos seremos iguais”.
Internacionalmente, é
celebrado ainda o “Agosto Negro”, em referência aos protestos do movimento
negro dos Estados Unidos para fazer justiça por um homem negro condenado à
prisão perpétua e assassinado dentro da prisão, na década de 70.
A proposta da Caminhada
Tembwa Ngeemba insere-se, portanto, nesse contexto tão representativo do mês de
agosto. Seu objetivo é unir a sociedade para enfrentar o racismo em suas
múltiplas expressões, principalmente no que toca a liberdade religiosa. A
caminhada também chama atenção para a defesa dos territórios e proteção do
meio ambiente, já que é preciso um espaço preservado para que se possa
projetar melhores perspectivas para as próximas gerações.
Diversidade, respeito,
liberdade, igualdade e paz são ainda temas de um conjunto de ações educativas
que antecedem a saída às ruas. Neste ano, essa agenda está ligada não só à
Caminhada, mas também à celebração do Centenário de Nascimento de Mãe
Mirinha de Portão e aos 75 anos do Terreiro São Jorge Filho da Goméia.
As atividades incluem:
- Seminário
presencial com o tema “boa convivência religiosa”, em 20/08;
- Roda de conversa
virtual sobre o direito humano de ter paz, em 22/08;
- Atividade para
crianças, que divulga a ideia de que é preciso paz para brincar, em 24/08.
O seminário, que vai acontecer dentro do Terreiro São Jorge e é aberto a todas as pessoas interessadas, tem participação de Mãe Lúcia (Mameto Kamurici), mãe de santo do Terreiro São Jorge Filho da Goméia. Como convidados confirmados estão: Mãe Márcia de Ogum, ialorixá do Ilê Axé Ẹuá Olodumaré e integrante Rede de Mulheres de Terreiro da Bahia; Tata Konmannanjy, historiador e presidente da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu – Acbantu; Rosana Fernandes, da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço); a historiadora Jel Trinchão; Fernando Borb, presidente da organização Rio Limpo e do Movimento Rios Limpos; e a Ebomi Lindinalva Barbosa, do Terreiro do Cobre.
Já a roda de conversa tem participação confirmada de Mãe Jaciara Ribeiro, ialorixá do Axé Abassá de Ogum, em Itapuã; Walmir Damasceno (Tata Katuvanjesi), liderança do Terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, em Itapecerica da Serra (São Paulo), e diretor do Ilabantu; Mãe Nadja, de Pernambuco; Mameto Nangetu; Tata Pedro, do Mokambo; e Pai Augusto, do Ilê Axé Opo Alafunbi..
A atividade para
crianças será realizada também dentro do Terreiro São Jorge e busca envolver os
mais novos na reflexão sobre as questões levantadas pela Caminhada, uma vez que
tocam todas as gerações.
Finalmente, no dia
25/8 (domingo), a Caminhada Tembwa Ngeemba reunirá os participantes no
Terreiro São Jorge Filho da Goméia, em Portão, Lauro de Freitas, com saída às
ruas marcada para as 8h. Unida pela fé e pela natureza, levando uma mensagem de
paz e de respeito social, a mobilização seguirá até o Terminal Turístico Mãe
Mirinha de Portão, fim do percurso.