Em 1921, Freud escreveu o texto “Psicologia das massas e Análise do Eu”, com a proposta de elaborar o que, naquele tempo, se mostrava como um significativo sintoma do momento histórico em voga: a formação de massas, a despersonalização dos indivíduos e a ascensão de líderes autoritários. Em sua leitura de sociedade, corroborou a proposta de Le Bon de como viviam os sujeitos das massas daquele tempo, em “evanescimento da personalidade consciente, predominância da personalidade inconsciente, orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das ideias num mesmo sentido, na tendência de transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas”.
Olhar para a atualidade global, de maneira semelhante, nos remete a algo parecido com o que foi vivenciado pelo psicanalista, e ‘esperançar’ nos ensinamentos psicanalíticos aponta uma forma de resistência. Na obra, Freud cita a afetividade mobilizada no indivíduo como o mais notável e o mais importante do fenômeno de massa. Foi pensando nesse afeto que construímos o tema de nossa V Jornada de Psicanálise da USP, Ribeirão Preto. É inevitável reconhecer o fluxo de afetos que se move em direção ao crescimento do fascismo atualmente, somado a uma conjuntura ‘infocrática’, termo elaborado por Byung Chul Han, as quais, quando postas em conjunto, resulta em uma sociedade que vive, paralelamente à digitalização, a crise das democracias, das verdades e dos coletivos. Questionamentos emergem: quais afetos sobrevivem em tempos totalitários? Como a psicanálise se implica nesta ‘infocracia’? Qual o papel possível de ser oferecido pela psicanálise frente à destruição dos coletivos e daqueles ‘Outros’? Como construir uma psicanálise política que se responsabiliza na luta contra a relativização das verdades, contra o ensimesmamento do Eu neoliberal, contra a comercialização de desejos?
Diante de tanto obscurantismo, pensar acerca do que Freud chamou como Alma Coletiva é um sinal de nosso desejo de resistência, e é o que nos trouxe aqui, na expectativa de construirmos um espaço de diálogos e trocas. Com muita alegria, a Jornada apresenta a nossa quinta edição ‘Fascismo, infocracia e desesperança coletiva: a psicanálise existe e resiste?’