3° Simpósio Amazônico da Abordagem Centrada na Pessoa

Atualmente, nossa Amazônia encontra-se na pauta dos circuitos midiáticos, nas negociações políticas internacionais e nos interesses das comunidades científicas. As preocupações com nosso território estão mobilizadas pelas questões climáticas, especialmente o aquecimento global, decorrentes  da longa história de exploração capitalista da natureza. Quando a reconhecem “romanticamente” como o “pulmão do mundo”, atribuem a nossa floresta uma função vital para a sobrevivência da humanidade para purificar o meio ambiente dos danos da poluição, assim como uma fonte de inspiração de movimentos sociais e políticas que trabalham para a construção de um novo mundo. Cobertas pelas copas de árvores centenárias e banhados pelas fortes águas dos rios, vivem pessoas reconhecidas como indígenas, caboclos, quilombolas, ribeirinhos, cabanos e nortistas que há tempos resistem às violências coloniais de saqueamento das ditas “matérias-primas” por parte de mineradoras, de madeireiras e do agronegócio; de invasão de terras pela devastação ambiental; quanto pelo silenciamento de nossa humanidade e pela exploração sexual infanto-juvenil. Uma colonização que permanece despercebida quando os protetores e defensores da Amazônia reconhecem estes amazônidas como primitivos, ingênuos ou pobres miseráveis que devem ser cuidados pela tutelagem. 

Questões que implicam nosso lugar de fala como profissionais e cientistas de uma Psicologia interessados por uma Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Uma metodologia não-diretiva que cresceu como um novo projeto político de relações humanas, projeto revolucionário decorrente do trabalho de Carl Rogers, pioneiro na psicoterapia e protagonista na criação da Psicologia Humanista. Fundamentalmente, a ACP tem a convicção que toda pessoa é um organismo digno de confiança; é um sistema holístico e homeostático orientado para a construção de uma vida boa; por fim, toda pessoa é um organismo em tendência à realização expressa de necessidades, potencialidades, movimentos e também de limitações para o crescimento. Esse é um projeto teórico-metodológico presente nos currículos de graduação de psicologia em várias Instituições de Ensino Superior da Amazônia. Um ensino referenciado nos conceitos de uma Psicologia norte-americana de Carl Rogers ou nas reflexões dos humanistas-fenomenológicos do nordeste e sudeste brasileiro, que foram psicólogos que importaram suas ideias para as Pessoas da Amazônia. Ou seja, vivemos uma incongruência do quanto nossas relações humanas são compreendidas pelas construções importadas, com consequência do quanto vamos esquecendo nossa ancestralidade, desvalorizando nossas condições de existir para reproduzir identidades que nos alienam do nosso mundo da vida cotidiana. Logo, quando escolhemos a ACP como orientação profissional e a utilizamos como abordagem teórico-metodológica e como forma de relação com o mundo, prescindimos reconhecer nas Pessoas da Amazônia o Seu Jeito de Ser Amazônida com sua tendência de realização de uma força ancestral; inclusivo ecologicamente entre partes e todo; por fim, fraterno pela parceria de manos e manas, emocionados pelas saudades um Círio e com a fortaleza dos movimento dos rios. Assim, faremos do III Simpósio Amazônico da Abordagem Centrada na Pessoa um espaço político e uma oportunidade ética de uma ACP brasileira que vem apreender e reconhecer as Pessoas da Amazônia.