Sabemos que, infelizmente, a sociedade
contemporânea ainda vive sob o jugo de pensamentos e atitudes hegemônicos e
eurocentrados, num enfoque colonialista que nos oprime cotidianamente. Tais
situações de opressão e de subserviência, que ocorrem nas mais variadas
instâncias comunicativas, manifestam-se primeiramente e, talvez,
principalmente, por intermédio da linguagem, do discurso.
No entanto, se é verdade que a
opressão e subserviência se perpetuam por meio da linguagem, também é por meio
dela que os preconceitos discriminatórios podem ser vencidos. De fato, a
linguagem, em suas mais variadas e multifacetadas formas é, sim, um artefato
cultural por meio do qual podemos ter nosso lugar de fala e, consequentemente, expressar
nossos valores culturais sócio-históricos, que nos definem como pessoas questionadoras
e críticas, que não silenciam, não se deixam abater, que, enfim, não se deixam
subjugar diante de situações reveladoras de preconceitos descabidos.
A temática do 20º SePLA – Linguística
Aplicada, estudos decoloniais e linguagem queer – mo(vi)mentos discursivos
contemporâneos, se propõe exatamente a abrir espaços para reflexões
profícuas acerca de situações discursivas que, algumas vezes sub-repticiamente,
outras vezes explicitamente, mascaram fatos que ainda persistem em pleno século
XXI: marcas de colonialidade, racismo, misoginia, homofobia, transfobia,
LGBTfobia.
Retomamos aqui as palavras de Gloria
Anzaldúa, intelectual norte-americana,
estudiosa das teorias feminista e queer, para, em seguida, parafraseá-las:
Por
que sou levada a escrever? Porque a escrita me salva da complacência que me
amedronta. Porque não tenho escolha. Porque devo manter vivo o espírito de
minha revolta e a mim mesma também. Porque o mundo que crio na escrita compensa
o que o mundo real não me dá. No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele
uma alça para poder segurá-lo. Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e
minha fome (Gloria Anzaldúa, 1981).
Assim como Gloria Anzaldúa, indagamos: por que
somos levados a pesquisar questões sobre linguagem, discurso, decolonialidade,
teoria queer? Porque, por intermédio dos estudos, do debate, das críticas,
colocamos ordem no mundo, ou pelo menos, procuramos contribuir com a sociedade,
desvelando discursos que menosprezam as classes sociais subalternizadas. No ato
de pesquisar, nossas descobertas compensam o que o mundo real não quer ou não
pode nos dar....
E é na busca contínua pelo bem-viver que o 20º
SePLA abre espaços para pesquisadores, professores e alunos divulgarem e
multiplicarem seus trabalhos, propiciando discussões e reflexões que, com
certeza, irão elucidar inúmeras situações discursivas que insistem em nos
calar, nos diminuir, em nos menosprezar....