A
agricultura familiar se caracteriza pela diversidade de cultivos e de criações
desenvolvida, a partir de estratégias de integração e complementariedade no
agroecossistema.
Os
animais são de suma importância para garantir a soberania e segurança alimentar
da família, além de significarem renda monetária e poupança a médio e longo
prazo. Proporcionam também a melhoria da fertilidade do solo e assumem diversas
outras funções e serviços ecológicos, sociais, culturais e econômicos no
agroecossistema, contribuindo significativamente para a resistência e a resiliência
do agroecossistema, especialmente na região semiárida brasileira.
Os
pequenos animais possuem grande eficiência no
processo de conversão dos alimentos disponíveis em produtos de alta qualidade
proteica. Constituem-se também em poupanças vivas que podem ser acionadas a
qualquer momento pelas famílias agricultoras, especialmente pelas mulheres. É
comum encontrar várias espécies de animais mesmo em propriedades muito
pequenas. Quando não têm cabras, possuem ovelhas, e as vezes possuem as duas
espécies. A presença de porcos é cada vez mais rara. É comum ver nas casas das
famílias agricultores muitas galinhas, muitos perus, alguns guinés e até patos.
Os
sistemas de criação de aves praticados pelas mulheres agricultoras com sua
diversidade de espécieis e tipos raciais tem uma complexidade de significados,
interações, sinergias e complementaridades dentro do agroecossistema,
contribuindo significativamente para a sustentabilidade do agroecossistema,
contudo, esta criação e outras atividades desenvolvidas pelas mulheres
agricultoras são invisibilizadas pelo patriarcalismo existente na sociedade.
Paradoxalmente ao longo da história, em todo o mundo, as agricultoras
vem, em sintonia com a sustentabilidade da vida, manejando e conservando a
biodiversidade local em permanente coevolução com os ecossistemas e segundo
diversos objetivos, entre eles a produção de alimentos. São guardiãs de
diferentes variedades locais de sementes, plantas e raças de animais e de
sistemas de conhecimentos, práticas e inovações.
As
raças locais de aves, assim como os conhecimentos e práticas associados estão
ameaçados pelo modelo hegemônico da indústria avícola e linhas comerciais,
colocando em risco o patrimonio genético e cultural associado, e
consequentemente a soberania e segurança alimentar da população do campo e da
cidade.
São estas questões e tantas outras inquietações e
possibilidades que animarão a partir desta semana uma sequencia de quatro debates
quinzenais que trarão experiencias, estudos e reflexões em torno das Criações
de Aves na Agricultura Familiar Agroecológica.
O debate inaugural nesta quinta-feira, dia 20 de
Agosto abordarar a
importância da aves (galinhas, perus, gansos, guinés e patos) para a
agricultura familiar camponesa como estratégia para a convivência com o ambiente
(semiárido brasileiro), como caminho para a autonomia das mulheres agricultoras
e como promoção da soberania alimentar do campo e da cidade. Este debate se
insere no 1º Ciclo de
Debates Virtual sobre Criação Animal na Agricultura Familiar do Núcleo Sistemas
de Produção Animal do Instituto Nacional do Semiárido, realizado em parcerias
com diversas organizações da agricultura familiar e instituições de ensino e
pesquisa.