Há
um passado em disputa. Se não há grandes novidades nessa afirmação, é verdade,
ainda assim parece cada vez mais tensionada nesses tempos de preocupante
disseminação de fake news ou deep fakes, potencializadas pelo
avanço das ferramentas de inteligência artificial, de ascensão de governos
autoritários, de apagamento ou destruição da esfera pública, em um contexto em
que os próprios sentidos do público, do real e do verossímil estão em xeque.
Essa
disputa passa também pela nossa capacidade de voltar a formular novos
horizontes – e novas utopias? podemos nos perguntar. Passa pela necessidade
assim de continuarmos a reavaliar os modos pelos quais contamos e
problematizamos a história de nossos tempos, territórios, espaços e povos, suas
fontes e os papéis que diferentes vozes e protagonistas desempenharam.
Nesse
contexto, o Seminário de História da Cidade e do Urbanismo caminha para sua 18ª
edição e volta a se reunir em Natal entre 10 e 14 de novembro de 2024, depois
de mais de 20 anos. A criação do SHCU, em 1990, foi fundamental para a
consolidação do campo da história urbana no Brasil, tornando-se um espaço de
relevância para discussões sobre questões e processos relacionados a história
dos territórios e dos saberes e poderes que o disputaram.
Muito
se passou desde então e o próprio campo, em suas várias escalas e relações,
amadureceu, reivindicou autonomia, ampliou perspectivas e pôs e repôs questões.
Os sentidos de urgência dos tempos presentes parecem nos impelir a pensar novos
horizontes, no equilíbrio precário entre o possível e o impossível à luz de
nossos processos históricos.
EIXOS
TEMÁTICOS
- Disputas
do/pelo progresso e do/pelo moderno: O eixo se relaciona mais diretamente com as
pesquisas que formaram o campo da história urbana no Brasil, analisando e
discutindo os planos, projetos, instituições, instrumentos e dispositivos
urbanísticos e legislativos de incidência sobre o território, as ações de
agentes públicos e privados e os aparatos tecnológicos e de infraestrutura, da
escala local ao transnacional; das relações entre arquitetura e as
preexistências em suas várias dimensões e múltiplas representações e gradações
(entre campo e cidade, incluindo seus limites em disputa e, muitas vezes,
borrados e transtornados).
- Regimes de veracidade e historicidade: Procura incentivar as pesquisas e trabalhos que tratam das várias dimensões das disputas pelos legados, símbolos e modos de narrar a história urbana; das disputas na esfera pública a partir da história e suas apropriações, interpretações, deformações; sobre o verdadeiro, o verossímil e o insidioso; sobre as aproximações e os usos das fontes, arquivos e acervos públicos e privados; sobre digitalização e pesquisa em acervos digitais; sobre as lutas pela preservação e pelo que se preservar; sobre representações, expressões culturais, apropriações e reinterpretações dos processos de formação dos territórios ao longo das últimas décadas.
- “Outras” histórias? O eixo põe em xeque seus próprios termos, buscando estimular discussões que apontem o lugar central, estrutural, dos chamados “outros” e “outras” na história, os elementos da cultura popular nas formações urbanas, nos territórios múltiplos; as desterritorializações, as lutas, os conflitos e dissensos, as questões de gênero, os corpos divergentes; que discutam o alcance da universalidade e da contemporaneidade; que iluminem trajetórias e personagens à margem – que expressam a centralidade das fraturas da modernidade.
Por certo, esses eixos não são estanques. Esperamos que inspirem escritas e reflexões. Mais ainda! Trabalhos que transbordem essas perspectivas também serão bem-vindos!
Em caso de dúvidas, favor entrar
em contato pelo e-mail 18shcunatal@gmail.com.