A memória, centro vivo da tradição, é o pressuposto de cultura no sentido de trabalho produzido, acumulado e refeito através da História (Alfredo Bosi, Cultura como tradição, 1987).
Apresentação e Proposta
O Simpósio do Patrimônio Material e Imaterial é uma realização do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Unidade de Gestão de Cultura de Jundiaí (UGC) em parceria com as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) Jundiaí, Itu e São Paulo. Em 2018, passou a integrar a programação do Mês do Patrimônio Histórico e Cultural de Jundiaí.
Em sua décima terceira edição, a ser realizada em 28, 29 e 30 de agosto, o Simpósio tem como tema central “Patrimônio vivo e (con)tradições: sociobiodiversidade e identidades culturais”, tendo como propósito apresentar a relevância do patrimônio vivo para a preservação das memórias, histórias, identidades e tradições culturais de pessoas e lugares.
O Mês do Patrimônio faz parte do
calendário municipal oficial de Jundiaí, desde 2019, e é reconhecido como um
programa municipal de educação patrimonial realizado durante o mês de agosto,
que tem o objetivo de inserir na pauta de discussões da gestão patrimonial os
resultados das pesquisas, reflexões e intervenções no âmbito da preservação do
patrimônio cultural.
Em 2025, a edição do Simpósio do
Patrimônio Material e Imaterial tem um olhar para os agentes culturais,
reconhecendo publicamente os homens e mulheres que, individualmente ou junto
aos seus coletivos, preservam e valorizam inúmeras tradições e diferentes
formas de viver e ocupar o espaço. Isso implica em enfatizar a importância da
oralidade, das redes de compartilhamento e aprendizado pautados nos saberes do
trabalho e na relação com a natureza, fortalecendo a transmissão de
conhecimentos e a valoração das múltiplas identidades culturais entre as
gerações.
O patrimônio vivo é o próprio tecer
cotidiano das identidades culturais em que tradições são retomadas e
ressignificadas. São as memórias dos idosos, as narrativas femininas, dos
afrodescendentes, das crianças, dos vulneráveis, das comunidades tradicionais e
de tantos outros grupos sociais e minorias étnicas que tiveram o direito à
memória suprimido. Negar o direito à memória é o equivalente a negar o direito
à própria existência. Não se trata apenas de buscar as raízes do passado, mas
de reacender as centelhas da esperança que nele dormitam.
A valorização do patrimônio implica em reconhecer os valores e significados que as comunidades atribuem a esses elementos, sejam eles culturais ou naturais. A natureza é parte essencial das referências identitárias de diversas comunidades tradicionais. Reconhecer e proteger esse patrimônio implica em respeitar os vínculos que os indivíduos possuem com o território e seus elementos naturais e culturais.
As expressões “cultura viva”, “patrimônio vivo”, “revitalização” e outros termos associados implicam em valorizar a vitalidade das tradições, das expressões culturais e das referências históricas no presente como práticas socioculturais ativas, reconhecendo o patrimônio vivo como um processo de democratização da cultura e da política cultural e o encontro de saberes e tradições locais, regionais e nacionais a partir do cotidiano dos sujeitos, das comunidades e das instituições. Trata-se de assegurar a continuidade das práticas culturais, dos saberes ancestrais e da preservação ambiental, contribuindo para que identidades, memórias e expressões culturais vivas sejam valorizadas e difundidas às novas gerações.
Objetivos
No ano de realização da Conferência das Partes
sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP 30), busca-se enfatizar a relevância e os
mecanismos de proteção e valorização do Patrimônio Ambiental frente aos riscos
provocados pelas mudanças climáticas, bem como evidenciar o valor dos saberes,
modos de vida e das tradições culturais das populações tradicionais que possuem
uma conexão intrínseca com esse patrimônio, conforme indicado nas recomendações da Carta de
Jundiaí, elaborada em 2019, e considerada um dos principais
resultados dessa trajetória de debates, reflexões, projetos e ações no campo da
preservação do patrimônio cultural e natural.
Essas recomendações projetaram um futuro possível não só para
o Simpósio e o Mês do Patrimônio, mas para os caminhos da municipalidade
em busca de valorizar pessoas, grupos sociais, comunidades e seus territórios,
reconhecendo-os como produtores dos saberes tradicionais e como representantes
de diferentes segmentos culturais e artísticos ligados às expressões e
manifestações das culturas populares, por meio de ações educativas formais e
não formais em diferentes ambientes, do fortalecimento dos vínculos
comunitários, dos saberes do trabalho, das histórias das ruas e dos bairros,
das rotas que trazem à luz memórias soterradas é que as tradições ganham sua
força e atualidade e que novos patrimônios passam a ser devidamente
reconhecidos e valorizados por grupos sociais diversos.
Resultados Esperados
Essa edição do Simpósio pretende
propor e reconhecer iniciativas que apresentam a preocupação da
cultura como o processo e o resultado do trabalho feito pelas pessoas,
comunidades e instituições que querem conhecer e transformar por dentro os mecanismos da sociedade, da
natureza, da relação da sociedade com a natureza, do Estado com a sociedade,
das diversidades com as singularidades, do passado com o presente e, por isso,
com potencialidade de construir o futuro.
O entrelaçamento entre memória e
esquecimento permite ao patrimônio histórico, artístico e cultural alcançar
reconhecimento e valorização, mas ao mesmo tempo produz um certo distanciamento
dos seus significados no cotidiano. O tempo e o espaço da memória se
constroem como exercício da cidadania e do direito à cidade. Sendo a memória um
processo dinâmico e ativo, a cultura e o patrimônio cultural não podem ser
vistos de maneira isolada ou associada apenas a objetos e lugares pré-determinados
por outrem, sobretudo por serem reconhecidos e ressignificados
constantemente pelas práticas sociais e por diferentes atores da
sociedade.